terça-feira, 7 de junho de 2016

Sobre o espetáculo do dia 4/6!

Boa tarde, gente!

Temos muitos temas pra trabalhar, muitos eventos para relatar, mas é preciso que se comece de algum lugar. Escolhi começar pelo nosso espetáculo "O Brilho de uma Alma" que fora apresentado no sábado, dia 4/6, dentro da EXPO Contemporâneos, no Centro Cultural Mestre Assis.

Gosto muito de falar sobre esse espetáculo e sua evolução, não por ser o carro-chefe da EdLua.Artes, mas pelo que esse trabalho representa pra mim e para a sociedade. O que o torna tão especial, para mim, é justamente o desafio de expor uma visão tão intima a respeito do convívio com a deficiência.

Conforme muito bem observado por Renato Gonda durante a roda de conversa deste sábado, em praticamente nenhum dos meus trabalhos anteriormente expostos e em nenhum dos livros publicados, aparecem sequer referências à questão da deficiência. Na verdade, me lembro de apenas dois textos meus anteriores ao meu relacionamento com a Lua que fazem alguma alusão à deficiência. Essa postura (e chamo de "postura" por ter sido sempre intencional) de não mostrar marcas da minha questão motora no meu trabalho artístico se devia ao pensamento e, principalmente, à vontade de mostrar que os sentimentos em relação às coisas e acontecimentos da vida, são comuns entre pessoas ditas "normais" e pessoas ditas "deficientes". 

A teoria disso era a pessoa comprar um livro meu e, ao ler, se reconhecer, para, quando viesse a conhecer o autor, se espantar ao perceber que se tratava de um cadeirante, ou vice-versa. Sempre me considerei normal, graças a grande influência da minha mãe, que sempre soube me mostrar quais eram os pontos de igualdade que eu tinha com o resto do mundo e queria muito que as pessoas me vissem como um igual. Durante muito tempo, eu não queria ser reconhecido, consumido ou, pior, ser considerado exemplo por causa da deficiência, mas, sim, pela qualidade do meu trabalho artístico (e ainda quero!), mas algo na minha relação com a deficiência mudou e, mesmo sem saber discernir o que foi, senti a necessidade de começar a trabalhar estas questões. Certamente, o namoro presencial, o casamento e a paternidade foram processos que me levaram levantar questões sobre como eu posso ajudar minha família com as tarefas do cotidiano. Foi bem doloroso emocionalmente o conflito de perceber que mentalmente posso fazer coisas, mesmo pensando de dentro das limitações impostas pelo quadro clínico de paralisia cerebral coreoatetóide, que durante a execução se mostravam de realização por demais dificultosa ou até mesmo impossíveis no momento. Com o conflito veio a arte. Em geral, minha poética é fruto de um estudo apurado daquilo que sinto, podendo também fazer as vezes de ferramenta de interface, proporcionando a possibilidade de dialogo entre razão e emoção. Poesias escritas!

E daí a me lembrar que tive de enfrentar para obter a formação acadêmica, artística e humana que tenho hoje e pensar que muitas pessoas ainda tem seus potenciais negligenciados pelo pré-conceito da  própria família, por profissionais da educação que não têm especialização para trabalhar com SERES HUMANOS , pelo despreparo da sociedade como um todo, foi bem fácil decidir que eu posso ajudar, mas, não da posição de exemplo.

Quero ser apenas um mediador, uma ponte entre duas realidades! E foi quando me reconheci nesse papel que comecei a desenvolver esse projeto, que, desde seu inicio como performance (para mais informações leia o artigo "Sobre a evolução da performance “O Brilho de uma Alma” que mostra o processo criativo que levo à base do espetáculo), teve contribuições valorosas da Lua, de Almir Rosa e de Edu Correa, e alcançou um novo nível com a chegada da Andrea Pinheiro.  Minha gratidão a todos que participaram deste intenso processo!

Quem assistiu à apresentação de sábado, ganhou a melhor e mais calma atuação que já fizemos. Acho que tudo contribuiu para que estivéssemos inspirados no dia, desde as dificuldades pessoais à responsabilidade de segurar uma plateia de peso. Estavam presentes alguns dos grandes artistas do movimento cultural de Embu das Artes, artistas que admiramos! O local da apresentação também estava nos fornecendo toda a criatividade das obras em exposição. Apresentar em um espaço diferente de uma caixa preta nos trouxe desafios inesperados, mas também nos trouxe um extenso leque de possibilidades para improvisar! Para mim, foi como voltar pra casa, já que foi ali no Centro Cultural Mestre Assis que iniciei os estudos de teatro e comecei a perceber o potencial do meu corpo, sob instruções de Almir Rosa e, posteriormente, Gil Filipe! Adorei a experiência de  apresentar em uma exposição! A roda de conversa também levantou comentários, debates, observações e críticas que nos serão muito úteis no decorrer desse projeto. Agradecemos ao nosso público!


Abaixo fotos da apresentação, registradas por Marcos Vinícius, Raja Denis e Saulo César Paulino e Silva:











































Edgar Izarelli de Oliveira


Agradecemos aos parceiros: