Olá
Hoje começarei a partilhar com vocês algumas reflexões sobre
o fazer literário dentro de uma proposta de escrita criativa em poesia e prosa.
Sempre tive vontade de passar minhas experiências adiante e, como já tive a
honra de orientar um projeto de oficina literária para jovens (Oficina “SentidoLiterário”, 2012 ), sinto muita falta de todo o processo, desde a preparação da
aula até o resultado, que era ver a evolução dos meus alunos. Então tive a
ideia de começar este trabalho virtualmente. Claro que será um novo desafio
para mim, e também sei que já há muitas propostas similares, mas cada poeta e
cada escritor tem uma experiência e uma teoria única extraída de seus estudos e
práticas, assim sendo, há espaço para todas as propostas.
A minha proposta é a seguinte: Postarei mensalmente, aqui no
blog, uma reflexão sobre fazer literatura. Poderei utilizar vídeo, textos de outros
poetas (sempre com nome dos autores), estarei disponível para conversas no meu
facebook e no e-mail da companhia. O grupo de debates da Oficina “SentidoLiterário” no facebook será reativado. Para além disso, penso em firmar
parceria com a Associação EMBUsca DAS ARTES parta utilizar o projeto
Literatório do núcleo de literatura da entidade como um meio de haver reuniões
presenciais para partilha com grandes nomes da literatura local; isso também será desenvolvido uma vez por mês. Outro objetivo consiste em conseguir parcerias com pequenas empresas da região para custear encontros semanais em locais periféricos para construir o fazer literário junto a jovens e adultos, gratuitamente.
Bom, dada a proposta, aproveito para deixar a primeira
reflexão sobre literatura. Como não sei nem tenho como saber quem vai ler essas
reflexões, tentarei ser o mais abrangente possível. Por isso, partirei do
pressuposto inicial de que estou falando para pessoas que estão iniciando um
trabalho literário e que querem melhorar suas capacidades.
Reflexão Literária # 01 – Todo mundo PODE ser um artista da palavra
“Todo mundo PODE ser um artista da palavra”. Esse pensamento
tem se tornado cada dia mais palpável aos meus sentidos, já não sei precisar
cronologicamente quando ele substituiu a ideia de arte, qualquer arte, enquanto
dom, mas creio que foi em algum momento durante uma aula de linguística na
faculdade, onde conheci o conceito de capacidade inata. Isso nada mais é do que
uma habilidade que todos possuem, mas que precisa ser estimulada da maneira
correta para funcionar adequadamente; diferenciando-se, portanto, de um dom que
é uma capacidade individual e especifica que já é, por natureza, bem trabalhada.
Hoje, enxergo a arte (em geral) como uma habilidade humana,
isso significa que a grande maioria, senão a totalidade dos humanos é apta a se
expressar por meio de arte, se assim desejarem. Colocando de outra maneira, não
há humanos que não possam pensar, se manifestar ou mesmo produzir
artisticamente porque todos podem desenvolver as técnicas básicas das artes e
a partir delas se desenvolver. Vale ressaltar que quando digo podemos me
refiro ao potencial de fazer, ter a possibilidade de fazer. Com técnicas
básicas não me refiro a estudos das técnicas de artistas consagrados, isso é um
passo (ou vários) além do básico.
Explico-me: para pintar um quadro o mais básico que precisamos saber é passar tinta em uma tela, portanto, quem sabe passar tinta numa tela pode ser pintor, bem como quem sabe usar a voz pode ser cantor, ou quem sabe mexer o corpo pode ser bailarino ou ator e assim por diante passando por todas as artes. Com isso não estou dizendo que ao passar tinta numa tela a pessoa se torna automaticamente pintor, pois, em meu entender de hoje, a arte, muito longe de ser a pura expressão do momento, é um estudo da profundidade do ser e da sua expressão; um trabalho de criação de imagens e conceitos que transmitam mensagens aos seus interlocutores, independentemente do estilo, da maneira em que for expressa.
Em outras palavras, do mesmo modo que saber as quatro operações básicas da matemática, nos dias de hoje, não torna ninguém um matemático, saber e, principalmente, se contentar em saber apenas o básico da arte não faz nenhum artista. Por outro lado, assim como o matemático teve um dia de aprender as operações básicas para depois chegar a ser matemático, o artista também tem suas fases iniciais de descoberta e aprendizagem. Assim é possível concluir que há um possível matemático em todo aquele que aprende a contar, um possível pintor em quem aprende a pintar e, agora trazendo para a literatura, um possível poeta em quem aprende a falar (ou gesticular no caso de língua de sinais) e/ou escrever uma língua.
Explico-me: para pintar um quadro o mais básico que precisamos saber é passar tinta em uma tela, portanto, quem sabe passar tinta numa tela pode ser pintor, bem como quem sabe usar a voz pode ser cantor, ou quem sabe mexer o corpo pode ser bailarino ou ator e assim por diante passando por todas as artes. Com isso não estou dizendo que ao passar tinta numa tela a pessoa se torna automaticamente pintor, pois, em meu entender de hoje, a arte, muito longe de ser a pura expressão do momento, é um estudo da profundidade do ser e da sua expressão; um trabalho de criação de imagens e conceitos que transmitam mensagens aos seus interlocutores, independentemente do estilo, da maneira em que for expressa.
Em outras palavras, do mesmo modo que saber as quatro operações básicas da matemática, nos dias de hoje, não torna ninguém um matemático, saber e, principalmente, se contentar em saber apenas o básico da arte não faz nenhum artista. Por outro lado, assim como o matemático teve um dia de aprender as operações básicas para depois chegar a ser matemático, o artista também tem suas fases iniciais de descoberta e aprendizagem. Assim é possível concluir que há um possível matemático em todo aquele que aprende a contar, um possível pintor em quem aprende a pintar e, agora trazendo para a literatura, um possível poeta em quem aprende a falar (ou gesticular no caso de língua de sinais) e/ou escrever uma língua.
Sim, considero que não seja preciso saber escrever para ser
um artista da palavra, até porque a palavra em essência é falada, a escrita é
apenas a representação gráfica da fala, um registro visual das palavras. Isso
nos leva a pensar que culturas que não desenvolveram a escrita tem, sim, sua
literatura, que é oral, mas é ignorada por não ser estudada, uma vez que carece de
registro. Desse ponto de vista, o trabalho com a palavra feito por repentistas,
rappers, índios e outras culturas sem escrita são em essência e conteúdo tão poesias
quanto poesias publicadas em livros; a única diferença entre elas é o meio em
que são veiculadas. O conhecimento da escrita amplia possibilidades de jogos de
linguagem e de reconhecimento pelo trabalho.
Outro conceito que geralmente associamos a imagem do artista
da palavra é o de que ele possui um extenso vocabulário, um domínio magistral
das regras cultas da língua e que é uma figura estudada nos ditames
culturais de um determinado padrão que é considerado erudito, essa imagem, apesar
de estar sendo desconstruída por movimentos contemporâneos, ainda compõe o
imaginário coletivo e, assim, contribui de forma significativa para a
elitização da arte da palavra, o que acaba por distanciar a literatura do
interesse popular.
Um artista da palavra, em minha concepção, é aquele que, por meio de uma apurada reflexão sobre aquilo que deseja expressar, emprega
os recursos léxicos e semânticos que tem à sua imediata disposição de forma a
dar às sensações corriqueiras e à linguagem cotidiana a potência de transmitir
mensagens de determinada maneira que ela atinja seus leitores/ouvintes,
causando-lhes empatia ou choque através de desdobramentos do sentido literal da palavra expressa. Esses desdobramentos podem ser construidos a partir de infinitos mecanismos de linguagem que, apesar de incontáveis, partilham a intenção comum de dilatar a palavra, tornando-a maior em importância e, assim, manifestando uma potência semântica ampliada. A essa “potência” chamo de “Potencia Poética”.
Apesar do termo se referir explicitamente à poesia, a potencia poética está em textos artísticos feitos em prosa também, agindo de outra forma.
Digamos, previamente, que o que chamo de potência poética é um conjunto de fatores que, se bem equilibrados, são capazes de transformar em arte qualquer palavra. A maneira individual e natural como cada um explora esse conjunto de fatores é o que diferencia os variados e infinitos estilos de pensar e fazer literatura.
Não há nenhuma pessoa capaz de reproduzir um estilo de escrita de outra pessoa, é possível imitar a técnica linguística utilizada por outrem, porém o estilo tem variantes subjetivas que torna-o único porque dependem de aspectos psicológicos, sociais, religiosos, visão política, valores culturais e etc.
Apesar do termo se referir explicitamente à poesia, a potencia poética está em textos artísticos feitos em prosa também, agindo de outra forma.
Digamos, previamente, que o que chamo de potência poética é um conjunto de fatores que, se bem equilibrados, são capazes de transformar em arte qualquer palavra. A maneira individual e natural como cada um explora esse conjunto de fatores é o que diferencia os variados e infinitos estilos de pensar e fazer literatura.
Não há nenhuma pessoa capaz de reproduzir um estilo de escrita de outra pessoa, é possível imitar a técnica linguística utilizada por outrem, porém o estilo tem variantes subjetivas que torna-o único porque dependem de aspectos psicológicos, sociais, religiosos, visão política, valores culturais e etc.
Isso significa que nossa visão de mundo é que forma o estilo
da arte da palavra que vamos conceber e, portanto, por qual caminho alcançaremos
o equilíbrio entre os fatores que constituem a potência poética natural para nós.
Por isso, costumo dizer que não posso orientar ninguém a se tornar o Carlos Drummond de Andrade ou Mário Quintana, são personalidades únicas, dotadas de grandezas tão singulares quanto as minhas ou as suas, mas posso orientar cada um no sentido de se expressar melhor dentro daquilo que já se tem de potência poética que é uma capacidade inata.
Por isso, costumo dizer que não posso orientar ninguém a se tornar o Carlos Drummond de Andrade ou Mário Quintana, são personalidades únicas, dotadas de grandezas tão singulares quanto as minhas ou as suas, mas posso orientar cada um no sentido de se expressar melhor dentro daquilo que já se tem de potência poética que é uma capacidade inata.
Sendo assim considerada, a descoberta da potência poética pode
ser comparada com o processo de aprendizado de uma nova língua qualquer que não
nos é habitual. E, como em todo e qualquer processo de aprendizado, tem fases. Respeitar
a fase em que se está é crucial para o processo de aprendizado tanto quanto
estudar e praticar. Algumas pessoas encontrarão mais facilidades que outras no
processo, como é natural, porém a prática é indispensável para todos.
Quanto mais escrevemos mais percepções temos de como as palavras podem se tornar mais expressivas e como elas se combinam para formar a potência de que vos falo.
Discursarei mais profundamente sobre a potência poética no próximo texto.
Quanto mais escrevemos mais percepções temos de como as palavras podem se tornar mais expressivas e como elas se combinam para formar a potência de que vos falo.
Discursarei mais profundamente sobre a potência poética no próximo texto.
No mais, é importante reforçar desde já que a arte da
palavra tem mais a ver com como você é capaz de expressar as coisas que vive
através da língua que fala, do que propriamente o que você vai falar/escrever.
Para finalizar esse primeiro encontro, gostaria de sugerir
um exercício simples. Se lembre do acontecimento que mais marcou o seu dia e
escreva sobre ele, descreva o acontecimento o mais breve quanto possível.
Exemplo: “Li aquela notícia”.
Depois, tente encontrar similaridades entre o movimento de objetos que estavam presentes no acontecimento e as sensações que o acontecimento despertou e as descreva.
Exemplo: “Li aquela notícia e as portas rangeram minha raiva”.
Por fim, arremate o texto buscando transmitir o que a sensação despertada trouxe em reflexo para você.
Exemplo: “Li aquela notícia e as portas rangeram minha raiva. O estrondo que se seguiu me estranhou em silêncio!”.
Pronto! Você escreveu um texto lúdico que passa uma mensagem bem trabalhada e clara e que vai causar a reflexão em quem quer que esteja lendo! É fácil e gostoso escrever! Agora, se quiser, você pode brincar com esse texto, dando-lhe mais adjetivos ou advérbios para complementar possíveis lacunas.
Exemplo: “Li aquela notícia”.
Depois, tente encontrar similaridades entre o movimento de objetos que estavam presentes no acontecimento e as sensações que o acontecimento despertou e as descreva.
Exemplo: “Li aquela notícia e as portas rangeram minha raiva”.
Por fim, arremate o texto buscando transmitir o que a sensação despertada trouxe em reflexo para você.
Exemplo: “Li aquela notícia e as portas rangeram minha raiva. O estrondo que se seguiu me estranhou em silêncio!”.
Pronto! Você escreveu um texto lúdico que passa uma mensagem bem trabalhada e clara e que vai causar a reflexão em quem quer que esteja lendo! É fácil e gostoso escrever! Agora, se quiser, você pode brincar com esse texto, dando-lhe mais adjetivos ou advérbios para complementar possíveis lacunas.
Convido quem se sentir a vontade, é claro, a partilhar suas
descobertas e textos conosco no grupo de debates do facebook Oficina “Sentido Literário”.
Podem também comentar lá as reflexões que postarei aqui.
Reitero ainda a minha disposição para conversar via facebook
Edgar Izarelli de Oliveira ou pelo e-mail: edelua.artes@gmail.com
Gratidão pela atenção! Desejo a todos grandes inspirações e
uma ótima semana!