terça-feira, 4 de abril de 2017

Reflexão Literária #03 - Aprofundamentos na dimensão da potência poética



Olá, gente!

Antes de mais nada, gostaria de informar que estou fechando parcerias para realizar encontros presenciais desse oficina. Por hora, tenho parceria firmada com dois espaços culturais, o Circulo Palmarino (Jd. Presidente Kennedy - Embu das Artes) e a Biblioteca Comunitária EJAAC (Valo Velho - São Paulo), que gentilmente disponibilizarão seus espaços semanalmente  e, claro, mantemos a parceria com Rotisserie e Doceria orgânica mais deliciosa dessas terras, a Renataly, que custeará uma parte dessa empreitada cultural! Gratidão querida, Nataly Mota e toda a família! Agradeço também aos coletivos que já abriram as portas de seus espaços! Espero que essas parcerias rendam bons frutos frutos a todos nós! 


Infelizmente, ainda preciso de mais recursos para iniciar e manter o projeto nesses dois locais ao longo do ano, mas. se o universo conspirar favoravelmente, em breve divulgarei as datas e horários de nossos encontros! 



Resumo da proposta desse projeto

A minha proposta é a seguinte: Postarei mensalmente, aqui no blog, uma reflexão sobre fazer literatura.  Poderei utilizar vídeo, textos de outros poetas (sempre com nome dos autores), estarei disponível para conversas no meu facebook e no e-mail da companhia. O grupo de debates da Oficina “SentidoLiterário” no facebook será reativado. Para além disso, penso em firmar parceria com a Associação EMBUsca DAS ARTES parta utilizar o projeto Literatório do núcleo de literatura da entidade como um meio de haver reuniões presenciais para partilha com grandes nomes da literatura local; isso também será desenvolvido uma vez por mês. Outro objetivo consiste em conseguir parcerias com pequenas empresas da região para custear encontros semanais em locais periféricos para construir o fazer literário junto a jovens e adultos, gratuitamente. 

Se você é empresário(a) e se interessou pelo projeto, mande um e-mail para edelua.artes@gmail.com ou deixe seus contatos nos comentários que eu mando os detalhes do projeto.

Agora vamos começar a reflexão.

O texto abaixo é um oferecimento de:



Localizada na Rua Belo Horizonte, nº 124, no charmoso Centro histórico da inspiradora Embu das Artes, a rotisserie doceria encanta pelos primorosos sabores sofisticados de suas deliciosas iguarias, preparadas com ingredientes orgânicas cuidadosamente selecionados pela gastrônoma Nataly Mota e sua família, bem como pelo amistoso acolhimento em seu ambiente intimista. Tudo para te proporcionar a mias sensacional, deleitosa e nutritiva experiência gastronômica! Para mais informações acesse o facebookhttps://www.facebook.com/Renatalydoces/?fref=ts ou ligue para (55) (11) 4385-1192.

Reflexão Literária #03 - Aprofundamentos na dimensão da potência poética         
     






Hoje daremos prosseguimento ao nosso mergulho naquilo que denomino “Potência Poética”, nos aprofundando em suas dimensões mais viscerais.

Para começarmos, gostaria de relembrar rapidamente o que já descobrimos sobre o assunto, só para uma breve recapitulação. 

Primeiramente, no texto “Todo mundo PODE ser um artista da palavra”, vimos que a arte, como um todo, é, na concepção que convosco desenvolvo, uma habilidade presente em todos os humanos e, munido do conhecimento mais básico sobre como fazer, cada indivíduo pode progredir independentemente, criando e evoluindo seus processos criativos para construir algo que chamei de estilo próprio. Começamos a conceber a ideia de Potência Poética como o equilíbrio de vários fatores que constituem textos artísticos. Ainda nesse texto, definimos o artista da palavra como a pessoa que consegue empregar, de maneira criativa, a língua que fala, visando transmitir uma mensagem de determinada maneira para que haja algum impacto no receptor.

Já no segundo texto, “Desvendando a Potência Poética”, fizemos a distinção entre a função poética, que é uma possibilidade de utilização da língua que pode ser mesclada a outras aplicações da língua para um fim não artístico, e a potência poética. Definimo-la como sendo os mecanismos linguísticos intrínsecos que, por possibilitar o acionamento e o ajuste da função poética, tornam-se essencialmente palpáveis apenas nos ambientes em que a função poética predomina sobre as outras, isto é, nos textos artísticos. E estudamos como é possível trabalhar a arte da palavra valendo-se do conhecimento dos sentidos das palavras relativamente corriqueiras para, através de jogos de oposição ou de sobreposição de sentido, criar um efeito inesperado que provoca no receptor a reflexão, quer seja por empatia, quer seja por ruptura.

Com esse exercício de entender, ainda que rasamente, o mecanismo de constituição de textos artísticos com base no sentido individual de cada palavra para criar um mosaico resultante da sucessão das imagens evocadas, compreendendo como este conjunto de paradigmas atinge a mente do receptor da mensagem, despertando nele o interesse pelo desdobramento do que foi expresso; vislumbramos um esboço ainda muito técnico e superficial do conceito de potência poética.

Para adentrar mais profundamente no assunto, se faz necessária uma discussão mais apurada acerca do que pode ser chamado de um texto artístico. Claro que o texto terá uma visão pessoal, baseada nas experiências, conhecimentos, ideologias, crenças e políticas que tenho sobre o assunto; porém, tentarei ser o mais criterioso quanto possível. Essa discussão é de crucial importância porque é a partir da contextualização do que é a arte expressa através da palavra que compreenderemos a real dimensão do que chamo de potência poética.  

A literatura artística, como todas as outras artes, se deriva da ânsia de expressar e comunicar sentimentos, opiniões, experiências, ideias, desejos, sonhos, imaginações, expectativas e outras matérias pessoais, portanto, trata dos assuntos pertencentes à natureza e à essência humana em seus vários aspectos, suas diversas nuances e personalidades. No entanto, essas características são comuns a todos os textos que podemos produzir, posto que a comunicação é a função primordial de qualquer língua, bem como de qualquer forma de expressão artística. Daí, podemos concluir que, se entendermos a arte da palavra enquanto a técnica de se comunicar através das palavras, todo texto é um texto artístico. De fato, saber tecer um texto de qualquer espécie exige um trabalho, um labor com a palavra. Quanto mais bem elaborado for esse trabalho, mais o texto em questão atingirá seu objetivo de deixar clara ou subliminar a mensagem que se quer transmitir.

Então, o que diferencia a parte da literatura que estamos acostumados a entender como artística (poesias, contos, romances e etc.) do resto da literatura? Por que uma reportagem de jornal ou um texto didático são construções textuais tão diferentes de uma poesia ou de um conto?

Descartemos por ora a dimensão da técnica de composição textual, até porque as técnicas e convenções que realmente distinguiam arte de outros textos já foram extrapoladas pelo pós-modernismo e arte contemporânea. Vamos dar um passo mais ousado em direção a um estágio anterior à realização prática da técnica, para melhor pontuar aquilo que divide a literatura em duas grandes e distintas "regiões". Atentamo-nos à intenção da técnica.

Falando de maneira geral, a língua pode ser usada com duas intenções: comunicar a outrem sensações, sentimentos, opiniões, acontecimentos, pensamentos particulares, individuais e, portanto, singulares e/ou passíveis de uma interpretação particular e intima; ou noticiar acontecimentos, instruir acerca de teorias, manifestar ou formular pensamentos de maneira científica, factual e, portanto, imparcial, ou seja, busca transmitir a impressão de verdade, na maior parte das vezes, impossibilitando interpretações pessoais sobre o fato.

Notoriamente, no primeiro caso, a  pessoa, ao tecer seu texto, deseja, de alguma forma, criar um vínculo ou aproximação pessoal com seu receptor, para isso, a linguagem textual será carregada de estímulos que tragam ao texto a sensação de presença do locutor, não necessariamente em primeira pessoa, embora seja o mais usual para atingir esse efeito de, me permitam a criatividade, "presencialidade". 

É importante observar que não estou qualificando a presença, apenas afirmando a noção de sua existência. Se essa presença é humana ou não, se está presente para agradar ou agredir, fica a critério do indivíduo que a constituiu enquanto presença. Clareando, chamo de presença desde o autor exposto, como no caso de uma carta, até uma existência imaginária criada para narrar uma história fictícia, abrangendo, portanto, o que hoje os literatos definem por eu-lírico. 

Por outro lado, a segunda intenção exige do autor o máximo afastamento possível por necessitar de uma aparente neutralidade de opinião. 

Digo "aparente" porque uma neutralidade total e absoluta  é impossível de se alcançar, posto que o que definimos por língua é um conjunto organizável de variados recortes da realidade - as palavras. Como já vimos no texto anterior, no exemplo da borboleta x mariposa, cada palavra selecionada para compor um texto carrega junto de si toda uma bagagem cultural que confere ao texto uma atmosfera e denota, sim, mesmo que muito bem mascarada pelo distanciamento entre autor-receptor, a visão de mundo e o impacto que a informação transmitida tem sobre o emissor. 

Permitam-me um breve desvio no texto para exemplificar e esclarecer essa questão.  

Tomemos para efeito de comparação as seguintes manchetes fictícias.                

" Terrorista detona bomba em badalada casa noturna paulistana e mata 3 sócios e 5 prostitutas."  

"5 profissionais do sexo e 3 investidores são mortos por fundamentalistas religiosos em atentado à casa noturna em São Paulo."

Escolhi o tema polêmico para que fique bem claro como a seleção das palavras definem a visão de mundo de uma pessoa. 

Apesar de noticiarem a mesma ocorrência de maneira igualmente neutras do ponto de vista do envolvimento pessoal, as duas manchetes carregam recortes diferentes do fato a que se propõem narrar.

Na primeira opção, o foco está no atentado e na estirpe do local onde o ato ocorreu, dando a sensação de que a importância da noticia está na fama do lugar; as vítimas são claramente tratadas como informações adicionais, principalmente as mulheres, que são colocadas por último, ou seja, aquilo que não está em destaque e são vistas de maneira vulgar, porém deixa aberto o significado de terrorista, que é aquele que provoca terror. 

Já na segunda opção, as vítimas são tratadas com maior respeito e são colocadas no foco, deixando o acontecimento em segundo plano e não coloca destaque no local, mas associa a imagem do agente da explosão a de um tipo muito específico de pessoa, o que pode gerar revolta social contra pessoas que se encaixem no padrão apontado.

Voltando à espinha dorsal da discussão sobre as "regiões" da literatura.  

Agora que já dividimos o vasto terreno da arte de tecer textos em duas grandes esferas, está na hora de entender que esses continentes têm áreas próximas em maior ou menor escala, fronteiras e intersecções, onde eu enquadraria a literatura que venho chamando de "artística" (poesias, contos e romances), críticas diversas, reflexões, manifestos e discursos políticos, entre outros; e áreas extremas onde um não toca o outro, que seriam, por um lado, cartas pessoais e por outro, textos didáticos e informativos.  

É importante notar que, para o lado neutro, a variável, além do grau de aproximação do leitor, é o grau de opinião que pode ser claramente expressa, enquanto que, do lado pessoal, a variação é quantas pessoas o texto pode atingir com sua profundidade máxima. Dessa forma, a escala dos textos neutros vai se tornando pessoal, enquanto que a escala dos textos pessoais é restrita apenas pela fronteira da língua no qual o texto é elaborado. 

Explico-me melhor. Pode-se tecer um texto pessoal, ou seja, a partir das particularidades individuais de cada pessoa, de determinada maneira que, mesmo em acordo com as regras e as possibilidades da língua que se fala, o significado interno do texto (aquele que é desdobrável e pode ser interpretado) fique restrito ao idealizador da mensagem, porque as imagens evocadas tem um sentido que, para este, é peculiar, não fazendo parte do senso comum, sendo demasiadamente próprias à sua vida e intimidade. Outras pessoas entenderão apenas as camadas superficiais de textos assim. Pode-se também fazer uso de expressões coloquiais que só um grupo próximo ao autor entende, numa carta, por exemplo. Ou, ainda, tecer um texto que, mesmo sendo cunhado de maneira particular, possibilita, por criar jogos lúdicos com o senso comum, uma profundidade acessível a qualquer pessoa que partilhe do conhecimento da língua na qual o texto foi criado. E é aqui que mora, na minha opinião, o verdadeiro diferencial da literatura artística.

Bons textos artísticos são, no meu entender, aqueles que, através do uso adequado das variadas técnicas, ganham a característica de permitir que o receptor adentre no universo do texto e ali se reconheça a tal ponto que se aproprie de sua mensagem e consiga sentir-se parte daquele mundo. Isso só é possível se o autor conseguir abranger em seu trabalho aspectos inerentes a toda a humanidade e transmiti-los de forma que o conteúdo seja forte o suficiente para causar empatia ou choque em qualquer tipo de pessoa, conferindo, assim, a noção de "presencialidade" ao texto.

Entretanto, conforme vimos ao longo dessa discussão, a noção de "presencialidade", por si só não garante que o texto seja factualmente artístico, pois está presente em qualquer texto da região pessoal da literatura, o que nos remete a pensar que a noção de "presencialidade" é flexível, uma vez que se adequa a várias funções. Essa capacidade de se ajustar a inúmeras situações indica que a "presencialidade" possui alicerces ou forças internas ainda mais subjetivas que constituem, sustentam e dinamizam a essência textual. 
    
Resumidamente, concebo essas partículas rudimentares que dão força e movimento à noção de "presencialidade" da arte da palavra da seguinte maneira

Intensidade - pode ser "quantificada" pelo nível de interesse do leitor em continuar lendo, é a vida do texto, o que nele nos toca enquanto seres humanos. O quanto e de que forma a palavra nos impacta.

Profundidade - o quanto o texto pode ser desdobrada e redobrada, o quão fundo ele chega nos leitores. O quanto a obra nos afunda em reflexões. 


Transparência - quão sincero foi autor ao se pronunciar, quanto há de verdade compartilhada com o leitor, o quão clara fica a intenção do artista. O quanto é possível se transpor para o lugar da presença.

Riqueza - quanto conteúdo de si e dos mundos que o rodeiam o artista consegue transmitir através da obra que constituiu. Quais os valores que a obra traz.

Construção Imagética - como o artista traduz a sua riqueza em imagens para que ela possa ser absorvida e trabalhada. O que o texto nos traz de experiência sensorial. 

Complexidade - de quantos recursos linguísticos o artista se valeu ao escrever a obra, qual a sua técnica (vocabulário, pontuação, presença de figuras de linguagem, etc).

Todas essas forças são independentes entre si e precisam encontrar um equilíbrio para que a noção de "presencialiaide" adquira contornos. Com isso, tento exprimir a ideia de que, por exemplo, um texto complexo não é necessariamente intenso; por outro lado, um texto intenso não goza necessariamente de uma boa construção imagética e assim por diante. Isto quer dizer que a existência satisfatória de UM desses fatores não implica imediatamente no sucesso de outro fator. 

E aqui é preciso compreender que cada força dentre as citadas tem diversos graus. Dessa perspectiva, não existe, por exemplo, a dicotomia Simplicidade X Complexidade, mas, sim, diferentes escalas da mesma força. Assim, um texto mais simples está se valendo de uma escala de complexidade menos complexa, porém, ser menos complexa não significa que é inferior, pois, usar uma linguagem simples pode garantir o bom funcionamento do texto como um todo, tornando-o mais intenso e facilitando a construção imagética, causando maior interesse em um maior número de  pessoas. Por outro lado, um texto mais complexo pode até dificultar a ação das outras forças, ocultando a profundidade e a riqueza atrás da técnica e embaçando a transparência, causando afastamento do leitor e neutralizando a noção de "presencialidade". Portanto, o que chamo de equilíbrio não é necessariamente a utilização da escala máxima de todas as forças ao mesmo tempo, mas o ajuste preciso para que cada texto atinja a máxima expressão da sua mensagem.         

O equilíbrio e harmonia desses fundamentos é o que denomino Potência Poética que é o que diferencia textos artísticos de outros textos. A forma individual com que se trabalha a língua afim de alcançar o equilíbrio desses fatores para produzir o impacto sobre o receptor é o que chamarei de estilo próprio daqui por diante.

Trabalharemos a partir do próxima reflexão mais profundamente cada um dos aspectos rudimentares da noção de "presencialidade".

Para quem quiser exercitar os conteúdos vistos na presente reflexão, sugiro duas atividades interessantes.

Atividade I

Escolha uma notícia, reportagem, texto científico ou didático. Procure preferencialmente um tema para o qual você não tenha uma opinião totalmente formada. Leia-o atentamente, tentando perceber as opiniões pessoais do autor.  Recrie o texto a partir de uma noção de presencialidade (pode ser real ou fictícia) que estava no local onde o texto original mostra, passe a mesma informação mas tomando uma postura de concordância, incredibilidade ou desacato com o autor original.

Atividade II

Crie um texto artístico, ou seja, poesia ou conto, que contenha a sua visão pessoal sobre algum sentimento que você teve na infância. Depois, numa linguagem simples, elabore dez perguntas par amigos questionando-os sutilmente sobre os fatores internos da noção de "presencialidade": Intensidade, Profundidade, Transparência, Riqueza, Construção imagética e Complexidade. Exemplo: O que você sentiu ao ler o texto? Conseguiu visualizar o ambiente onde o texto ocorre?  Mande o texto e as perguntas para dez amigos. Compare as respostas entre si e também com a sua intenção. 

Convido quem se sentir a vontade, é claro, a partilhar suas descobertas e textos conosco no grupo de debates do facebook Oficina “Sentido Literário”. Podem também comentar lá as reflexões que postarei aqui.

Reitero ainda a minha disposição para conversar via facebook Edgar Izarelli de Oliveira ou pelo e-mail: edelua.artes@gmail.com

Gratidão pela atenção! Desejo a todos grandes inspirações e uma ótima semana!

Edgar Izarelli

3 comentários:

  1. Interessante reflexão sobre a arte mais comum : a literaria postura e qualidade e importante que se avalie sempre o que se escreve .

    ResponderExcluir
  2. Mas quanto primor!!! Isso é mesmo obra de um gênio. Parabéns a esse casal que abrilhanta a humanidade. Quanto orgulho em conhecê-lo.
    Jerusa

    ResponderExcluir
  3. Nossa, adorei, não terminei de ler, mas já desejo fazer o curso. Você acha possível um curso online pago Ed.

    ResponderExcluir