terça-feira, 26 de agosto de 2014

Só pra dar água na boca...

Boa tarde, galera!

A poesia abaixo, escrita por volta de setembro de 2011, faz parte do livro "Porta Encostada - Entre a Resiliência e a Obsessão". Está incluída no segundo ciclo livro, "Fechadura", que fala um pouco sobre a companhia e a solidão que pode existir durante a parte naturalmente considerada "boa" num romance, a fase em que está se vivendo intensamente cada segundo. A poesia mostra um pouco das minhas ideias inacabadas na parte prosaica da minha criação e expressa bem como são, até hoje, a maioria dos dias nos quais me dedico inteira, intensa e exclusivamente ao ofício de escrever. No mais, deixo a porta escancarada à vossa interpretação.
Uma curiosidade, apesar do final parecer escrito para minha esposa Lua Rodrigues, ainda nem a conhecia naquela época, pelo menos não conscientemente! Relendo muitas minhas de épocas anteriores é possível reconhecer que falo diretamente sobre ela ou mesmo para ela. Acredito que tenha sido uma premonição, mas, na época, eu cria que falava com a lua do céu.   
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Vida de Escritor (os contos que não acabei)

A porta aberta do meu quarto já não esconde minha reclusão.
Diante do computador, com músicas no ouvido, tento me abrir para o mundo;
Digito-me em endereços e senhas, torno-me sequências em código binário; 
E, aí, estou apto a começar minha vida cotidiana de coeficiente com um grande resto.
Converso com pessoas queridas, divulgo-me em blogs e redes sociais,
Conheço novas perspectivas, crio e recrio minhas fundações e meus luxos;
Acho noticias, se quiser, do mundo lá de fora e quase nunca eu quero isso pra mim.
De vez em quando, caço novas velhas poesias ou qualquer outra arte pra me inspirar;
Mas, fim das contas, percebo que sempre acabo preso na minha teia de aranha interna
E fecho janelas, interrompendo grandes transas e deliciosas tramas psicológicas.

Fujo deste silêncio todo caminhando pela casa até encontrar, na sala,
Uma rota de escape não tão apropriada, mas serve de companhia.
Infelizmente, não me abraça e nem abrange por muito tempo...
Sempre volto ao quarto, que de quarto só tem mesmo é uma cama mal usada...
Volto mesmo é pro meu escritório ou sala de debates e reuniões;
Quem sabe, indústria de criação e manipulação de vidas minhas...
E, no caminho, bate a frustração incômoda de ver, ainda do corredor,
As pilhas de folhas escritas pela metade sobre a escrivaninha...

Leio e releio as histórias que me cobram final ou, pelo menos,
Uma continuação flácida e incoerente que se deite num bel suspense...
Me lembro do enredo, da trama, da narração e da mensagem;
Me lembro das paranoias que saltam das milhares de personagens;
Mas, de repente, lembro que esqueci as figuras e suas linguagens!
E permaneço aqui sentado relendo fios frouxos de tecido suspenso,
Versos revirados e soltos, fins que não sei como bordar por mais que eu pense.
E minhas idéias não param de trazer novas pessoas e situações que não dispenso,
Ainda que em devaneio inconsciente e inconsequente, e tudo já está tão tenso!

Meus ombros, braços e mãos já estão pedindo uma boa massagem,
Mas ainda falta muito tempo pra noite ser e trazer a massagista...
Ainda falta muito tempo pra noite tecer uma rede de saídas!
São onze da manhã e tantos projetos me imploram atenção:

O tempo encurtou de repente, mas a estrela ainda não encontrou sua luz,
O psicólogo ainda não contou como fez as pazes com as emoções,
A operadora de telemarketing ainda não improvisou a própria vida,
A menina ainda não sabe que ela salvou a vida do artista completo,
O discípulo ainda não entendeu o jardim de seu mestre,
A amante ainda nem começou a narrar sua história misteriosa e provocante,
Exatamente como tantas outras pessoas ainda não escreveram nem uma letra:
A atriz, o mendigo, o deprimido, o assassino medieval, o cara comum na rua...
Nenhum destes escreveu, mas suas histórias se debatem querendo sair de mim.   
E teatro me cobra memória, interpretação e encenação, prática e teórica.
O poeta ainda não reencontrou sua musa primordial. Onde será que ela está?
E a poesia... Ah! Essa me pede mais amor aos seus novos estilos de expressão!
E eu me perco de mim mesmo e de todos esses mundos inexplorados...
E volto sempre, e sempre de bom-grado, aos braços macios da Lírica.

Lua, dai-me uma boa ideia perdida que me impeça de atear fogo em tudo isso!
Mande-me uma musa de um tempo passado, presente, ou plausível qualquer  
Que me mostre a maneira mais minha de terminar esses contos estranhos
E retire de mim essas poesias presas, inacabadas, e desafiadas a achar a chave.
Ilumina, Lua, essa minha vida de escritor que perpassa pelos cantos da madrugada,
Antes que a noite se encerre e leve consigo a minha inspiração leviana e simples!
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Grande abraço, 

Edgar Izarelli.





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