terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sobre troca de conhecimento..

Eu, um dia me interessei por arte. Mas não a toa, estava em mim, uma vontade crescente de saber mais; fazer mais! Mas como eu poderia fazê-lo? Por onde eu deveria começar? Onde procurar? E, principalmente, o que procurar?
Com o acesso a internet as coisas se expandem sim, ajuda muito ter o mundo todo, mas é preciso uma palavra chave pra eu saber o que realmente me agrada e qual caminho devo seguir.
Esse mundo infinito da arte começou a ser descoberto através de uma amiga, que reencontrei depois de anos, nos conhecemos de pequenininhas, brincamos juntas e como quase tudo na vida, o tempo levou e transformou.
Crescemos em mundos totalmente diferentes. Eu, aqui no Jd. Sta Emília, região periférica de Embu das Artes. Ela, na Casa de Cultura Sta. Tereza (que é a casa dela inclusive, ou era haha), fica no Jd. Sta. Tereza, também uma região periférica de Embu das Artes.
Eu tava afins de cursar jornalismo quando acabasse o terceiro ano do ensino médio, que aconteceria naquele mesmo ano (2012), pra passar na tão temida FUVEST estava estudando como se não houvesse amanhã, não sei pra quê (hahahaha). Enfim, reencontrei a Andy pelo face e ela começou a encher minha cabeça com ideias revolucionárias persuasivas e inclusive meio terroristas.
Resultado: terminei com meu namoradinho, virei esquerdista ativista feminista e blablabla! Ela me chamou pra organizar um sarau com base nesses ideais.
Maaaaas, eu não sabia o que era um sarau. Não me lembro se perguntei ou não; mas que fique aqui como confissão, eu organizei um sarau sem saber o que é um sarau.
Quando ela me contou achei meio entediante, mas queria muito entender o que acontecia! Pois bem, organizamos, foram cerca de 30 pessoas naquele dia. Me encantei com o que vi.
Foi tão mágico, meus olhos brilhavam ao ouvir poesias, poesias que eu nunca aprendi e nunca poderia aprender nesses anos de escola. Eu pensei comigo mesma: Por quê, cargas d'água, eu perdi tanto tempo com aquilo que chamam de essencial para o aprendizado?
Não sei, acho que é porque eu fui obrigada.
Não estou sendo radical não, viu? Devo à escola o meu trauma da matemática, porque no ensino fundamental os professores tem métodos bizarros e eu sou só uma menina com déficit de atenção (e achavam que era frescura), devo à escola também o meu problema de ansiedade, quando precisava entregar aqueles trabalhos dos quais eu não entendia 90% do conteúdo, pra depois fazer uma redação e uma prova, sem a mínima atenção do professor. É um descaso com a criatividade, um descaso com meu cérebro, se eu uso apenas 10% da capacidade dele atribuo a culpa a essas restrições.
Poxa! Nascemos gênios! Conseguimos absorver uma quantidade impressionante de informação e tudo que conseguem colocar na nossa cabeça é: NÃO PODE, NÃO DEVE, MENINAS DESENHAM FLORES, MENINOS CARRINHOS.
Chega uma hora que paramos de tentar. Paramos de querer. Paramos de permitir certos gostos, certas particularidades.
Eu nunca aprendi tanto quanto eu aprendi conhecendo pessoas e indo a saraus.
O que eu precisava estava ali, diante dos meus olhos. Poesia! Poesia sobre números, sobre cores, sobre história (a história do meu povo, sob perspectiva do mesmo), geografia, biologia, conhecimento das palavras, poder de discurso, de crítica! Poder de expressão!
Estava tudo ali. Mas não acabava ali.
Eu poderia fazer isso, eu poderia ser atriz, poderia escrever poesias ou romances inteiros se eu quisesse. Poderia observar aqueles artistas geniais pra sempre, aprender um pouco de técnica com cada um deles e assim me formar na faculdade da vida.
Fica aqui um agradecimento carinhoso por essa oportunidade, por me apresentarem a arte de fato: Andy e Casa de Cultura.
Conheci o Ed, que foi, sem sombra de dúvidas, o meu principal incentivador. Fez das minhas ideias que pareciam distantes, reais e palpáveis, estar com ele foi e ainda está sendo um aprendizado enriquecedor.
Com o tempo algumas coisas foram me entristecendo. O ego atrapalha muitos artistas. Quase ninguém aceita passar o que sabe a diante.
Mas eu não os culpo, culpo a falta de tempo, a falta de dinheiro, a falta de compaixão, a falta de valorização do trabalho artístico. Tem muitos culpados aí.
Mas temos que começar do começo, começar por alguém e por algum lugar.
Eu admiro de todo meu coração os artistas que se oferecem pra dar aulas por pouco ou nenhum dinheiro, se não tiver alguém pra fazer isso nada acontece.
Comecei a procurar formações, cursos livres, oficinas.. Tudo com um custo, claro que valorizo muito o trabalho feito ali, mas esse custo não era pra mim.
O custo não era pra mim e não é pra muita gente. Acontece que a arte foi privatizada, o conhecimento foi privatizado. Só quem tem uma boa condição financeira ou nenhuma conta pra pagar pode ter acesso a esse conhecimento.
Mas... E se cada um passar um pouco do que sabe? Uma gentileza.
Se um amigo quer aprender a plantar bananeira, por exemplo e eu sei como ensinar ele e fazê-lo chegar ao resultado desejado, porque não?
Porque não dedicar um pouco do meu tempo para aprender enquanto ensino?
A maior beneficiada disso talvez seja eu. Pois é, aprendemos duas vezes mais enquanto ensinamos.
E a vida exige uma partilha, exige que trocas existam, não precisa ser necessariamente uma troca financeira. Não estou dizendo que não preciso de dinheiro, porque eu preciso! kkk
Estou dizendo que se cada um ensinar um pouquinho, a gente vai derrubando aos poucos essa falta de acesso, falta de atividades que desenvolvam a criatividade e é possível! É possível a revolução começar pela independência dos artistas e do povo como um todo. Todos nós queremos aprender alguma coisa.
Eu, nesse caminho, aprendi a vivenciar a arte, a escrever o que eu sinto, a pintar o rosto de palhaça e fingir ser normal, porque palhaçada mesmo é aceitar todas essas imposições.
Aprendi a me expressar por meio da pintura, me aperfeiçoando sempre.
Aprendi um pouco de teatro, um pouco de literatura, um pouco de circo, um pouco de música, um pouco de dança...
Vivo aperfeiçoando esses todos, a cada dia que vejo o trabalho magnífico desse povo tão lindo da minha terra.
Agora, estou me preparando pra aprender com as crianças.
Um experiência inovadora e incrível, que precisa ser passada a diante.
Juntei tudo que aprendi e decidi SIM passar adiante. Essa será a missão agora e espero ter forças para levá-la a diante.
Somos todos professores, somos todos alunos, sempre!
Pretendo abrir turmas lá na casa de cultura em breve, segue o flyer de divulgação.
Se trata de um novo projeto bem simples que eu decidi elevar ao nível máximo. Basicamente vou cuidar dos pequeninos enquanto desenvolvo neles essa sensibilidade artística, à minha maneira e conforme eu sentir até onde e com o que eles me permitem trabalhar.
É, vou ser babá e facilitadora.
Estou super empolgada com esse novo projeto e pretendo torná-lo melhor e renovado com o passar do tempo. Nem eu sei que rumo ele pode tomar, mas estou bem disposta a tentar.

Beijinhos de luz!


Por: Lua Rodrigues






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