quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Balanço do ano!

Saudações, galera!
Pois é, chegamos ao último dia do ano, última postagem do ano. Vamos fazer um balanço do nosso primeiro ano de existência como companhia artística.

Foi um ano cheio de conquistas para nós e muita gente esteve conosco!

Tudo começou a partir da decisão. Dentre muitos projetos, optamos pela publicação de “Porta Encostada - Entre a Resiliência e a Obsessão” e pela conjunção de trabalhos para além desse livro. A exposição “Intimidade” acompanhou todos os lançamentos do livro em saraus. Obrigado, Renato Gonda, pelo maravilhoso prefácio.












Em Abril, subimos a São Francisco Xavier para participar da Feira Literária do Vale do Paraíba, onde encontramos o Sarau do Binho que sempre nos recebe de braços abertos, agradecemos a oportunidade, Binho!!!

Em maio começamos esse blog, que está sendo um sucesso. Participamos da Tenda Literária da Virada Cultural!!! Agradecemos ao convite!  

Literatura, Pintura e, para completar nossa tríplice, Teatro.
Em Junho, desenvolvemos a nossa 1ª performance para uma edição especial do Sarau Juntos na Casa, sarau erótico. Seguimos o tema e, da sensualidade ousada da lira,  criamos “Espelho“. A performance também acompanhou os vários lançamentos em saraus. Neste mesmo mês, Lua expôs parte de sua exposição no Sarau da Educação e Cultura de Osasco, durante uma verdadeira “invasão” embuense. Gratidão povo de Osasco pela receptividade sempre disposta a nos receber.   

Em Julho, Fizemos o lançamento do livro e a 1ª exposição das obras da Lua. Nossos eternos agradecimentos a todos os amigos que participaram do sarau, à Biergarten Choperia, e a Najara Sampaio e Anderson Baraúna, a nossa equipe de divulgação.



A nossa “Porta Encostada” nos abriu muitas portas e tivemos vários relançamentos entre agosto a outubro, participamos das bienais do livro e das artes! Nossos sinceros agradecimentos aos irmãos dos saraus: CorpoOralMente, Sarau da Kambinda, Práçarau, OqueDizemOsUmbigos, Sarau da C&A de Artes Balu, Sarau da Serra, bem como a equipe da All Print Editora, que nos ajudou durando toda a Bienal do Livro.

Em agosto abrimos a página “EdLua.Artes’’, no facebook, que hoje conta com mais de 350 curtidas!
Também abrimos o canal no youtube “EdLua das Artes”, com vídeos de algumas das nossas passagens.

Em outubro estreia a performance “O Brilho de Uma Alma”, em plena Diretoria Regional de Educação do Campo Limpo, para supervisores gerais. Gratidão, Marcos Rodrigo da Rosa!
Também no mês de outubro, fomos ao Encontro Regional de Autores do Litoral Norte, em São Sebastião. Gratidão a Maria Angélica de Moura Miranda!
E, fechamos, por conta da nossa gravidez; a temporada de “Espelho” no sarau da Kambinda.

Em novembro, apresentamos “O Brilho de Uma Alma”, na escola M’Boy Mirim I. Participamos da XIV Feira de Artes de Sta. Tereza, com uma nova performance chamada “Arte, Mulher Madura” na noite Árabe na Casa de Cultura Sta. Tereza e com uma barraca de exposição e venda na feira. Nesse mês, também, iniciamos a produção de camisetas poéticas.



Em dezembro apresentamos, novamente, “O Brilho de Uma Alma” na DRE, para professores especializados em educação inclusiva. Fizemos uma temporada nos saraus divulgando a performance “O Brilho de Uma Alma”, nosso blog e página do facebook e nossos produtos artísticos, passando por: Sarau da Kambinda, Sarau do Binho, Suburbano Convicto, Cooperifa, Práçarau e Sarau da Serra. Gratidão a Takumi Matos, por ter nos acompanhado nesse rodízio de saraus!

Saldo do ano: Um novo livro, uma exposição, três performances e metas atingidas em todos os veículos de comunicação! O novo livro recebeu ótimas críticas!!

Para 2015: Já temos o nosso primeiro compromisso marcado dia 3 de fevereiro (Lançamento do livro Porta Encostada, no sarau Suburbano Convicto).
No blog, como já fizemos com o livro “O Ogro e a Tecelã, de Hilda Milk (Guerreira Xue), faremos críticas dos livros adquiridos no Escambo EdLua!


Os livros são:
Terra Fértil, de Jennyfer Nacimento
A Vida é Bélica, de Jonas Worcman
Viver: Crônica de Vidas, de Hilton Luz
Praga de Poeta, de Victor Rodrigues
Dentre outros...

Em breve sairá a nossa entrevista no blog Ler, Analisar e Entender de Hilton Luz.

Além disso, novas exposições, camisetas, performances... Vamos correr atrás de patrocínio para o nosso novo livro, Luz de Prata, que conta a nossa história. Com ilustrações de Lua Rodrigues.

Para quem quiser, nos contactar e nos contratar o e-mail é edelua.artes@gmail.com  



Desejamos a todos um próspero ano de 2015! Sigamos todos juntos neste ciclo que se abre! 

EdLua.Artes 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Sobre a evolução da performance “O Brilho de uma Alma”

De vez em quando, é interessante parar pra pensar no processo que leva ao aprimoramento de um objeto artístico. O processo da performance ainda aberta é um dos mais interessantes. Usarei como exemplo, o nosso recente trabalho: “O Brilho de uma Alma”.

Abaixo, trecho da performance. registrado por Saulo César Paulino Silva no lançamento de seu livro:  "Olhares sobre a inclusão"



A performance teve o início de sua concepção no mais puro ócio criativo. Havia acabado a luz em minha casa e, por já ser noite cerrada, estava escuro. Minha família já estava dormindo, mas minha mente ainda estava ativa demais pra cair no sono. Peguei então a lanterna e me pus a recitar o poema “José” de Carlos Drumond de Andrade. No início era pra passar o tempo, mas logo percebi que, existindo um público, eu poderia  estabelecer uma relação entre o texto e foco de iluminação da lanterna. Isso aumentaria a potência imagética do texto, uma vez que o foco de luz estabeleceria uma comunicação direta com um espectador especifico, funcionando como um apelo de atenção individual e, ao mesmo tempo, ampliando a atenção dos demais expectadores às informações auditivas que estão sendo enviadas.

Foco de luz na mão do ator é um recurso ainda pouco utilizado e que garante uma incrível gama de possibilidades artísticas.

Usei exatamente este texto e este recurso de iluminação numa performance no Sarau da Cia. de artes Balú, em Carapicuíba, no dia 27/9.

Com o resultado satisfatório do recurso, decidi empregá-lo a um texto de autoria própria que pudesse criar um diálogo ainda mais íntimo e questionador com o público. O texto escolhido foi “Olha pra Gente”; texto escrito em 2012 que, na minha visão, trabalha com múltiplos aspectos da vida e opõe a lógica do sistema a uma maneira mais humana e mais espiritual de se experimentar as coisas que constituem nosso cotidiano. Esse texto busca, em linhas gerais, desfazer a mecanização dos atos e das palavras.

Neste mesmo período (era Setembro do ano vigente), havia escrito um texto, o “Escafandro em Curto Circuito”, onde ocorre uma intensa reflexão interna sobre o convívio pessoal e social com as limitações físicas que possuo.

Abaixo, um trechinho da apresentação do referido texto no Sarau da Educação e Cultura. Registrado por Eduardo Rangel.



Aconteceu de coincidir com a descoberta do recurso e a elaboração do texto supracitado a minha contratação pra finalizar uma palestra sobre altas habilidades na Diretoria Regional de Educação de Campo Limpo, por parte de Marcos Rodrigo da Rosa, meu ex-professor de língua espanhola, nos tempos de Colégio de Vanguarda, que hoje trabalha na DRE. Tinha 20 minutos pra fazer a performance no evento, que ocorrera no dia 9/10, e a vontade de fazer algo inovador, surpreendente, provocativo e, ao mesmo tempo, reflexivo e desafiador pra mim mesmo. Algo que desconstruísse paradigmas, fosse socialmente útil e artisticamente inexplorado. Além disto, queria algo que incomodasse o público.

Resolvi, então, que o primeiro passo seria realizar todas as características acima dentro de mim. Após um estudo apurado das minhas apresentações anteriores, descobri que apenas um tema do meu acervo ainda permanecia enterrado no arquivo dos tabus não trabalhados. Era hora de abrir a minha intimidade e falar de questões referentes à paralisia cerebral.     

Juntei, então, os dois textos somados ao recurso da lanterna, sendo que empreguei-o de maneiras diferentes entre os textos. No primeiro texto, “Olha pra Gente”, utilizei a luz como descrito acima, isto é, pra estabelecer um contato; já pro segundo texto, “Escafandro em Curto Circuito”, utilizei a lanterna como iluminação de cena, claro, com o significado abstrato de ser o brilho fraco e constante de uma alma limitada.

           Faltava o arremate de cena. O arrebatamento. O último choque. Optei por “A Caixinha Mágica”, um texto já firmado em minha mente e que mostra, metaforicamente, toda a liberdade obtida ao se entrar em contato com a essência artística do ser humano. Além da segurança de já ter feito o texto milhares de vezes, achei que ele encerraria a performance de um modo sutil e emocionante. Pra minha surpresa, só vim a descobrir a real dimensão d“A Caixinha Mágica” quando a integrei nessa performance.

A poesia, inicialmente escrita pra traduzir o sentimento de saudade de um tempo passado que pode ser alcançado através da arte, em 2011, finalmente revelara sua face adulta, onde denota conotativamente os sentimentos de ânsia por fazer aquilo que o corpo não permite. A poesia ainda remete a um desejo de conciliação entre a alma (essência capaz de desejar) e o corpo (matéria capaz de concretizar desejos). Em outras palavras, a poesia da voz à alma, opondo-se ao texto anterior, “Escafandro em Curto Circuito”, que dá voz ao corpo, mostrando as dificuldades pra expressar tudo o que a alma deseja.    

E com essa seleção, apresentei, com sucesso, a 1ª versão!

No entanto, me senti descontente com o final, faltava alguma coisa. Eu queria algo mais provocativo e chocante artisticamente e lembrei-me de incluir uma reflexão sobre o que os aplausos significam pros artistas.

Aplausos instantâneos me incomodam muito, pois considero que a verdadeira força da arte só pode ser realmente sentida quando se consegue causar alguns instantes de silêncio. Por isso, inclui ao final da performance o texto “Sobre as Palmas que Vocês NÃO Vão me Dar”. A ideia inicial da interpretação era reflexiva, porém, com o processo de exploração cênica, percebi que o tom de indignação, asco e até raiva pelas palmas recebidas se encaixa melhor ao texto e causa mais impacto ao público. Este texto fecha a performance de maneira mais incisiva e mais questionadora.

Ainda é cedo pra falar convictamente, mas creio que, considerando a ligação sutil e surpreendente entre os quatro, estes textos formaram o esqueleto textual dessa performance. Outros textos que venham a ser acrescidos a esta seleção, virão no sentido de evidenciar a ligação entre eles, creio eu; bem como mudanças de ordem cênica, por exemplo, no tom, na representação física ou mesmo na sequência textual virão na tentativa de acentuar os sentimentos que queremos transmitir.

Apresentei mais duas vezes, já com os quatro textos, uma na escola M’boi I, a pedido de uma das supervisoras que me assistiu apresentar a 1ª versão, e outra na Casa Amarela, num evento cultural, ainda em formato monólogo. Ambas as apresentações foram muito bem aceitas pelo público, mas eu ainda não estava nada satisfeito com o plano da expressão física da cena. Me sentia preso, o que, de certa forma, combina com a ideia geral da performance, mas eu sentia que ela poderia atingir mais e melhor o objetivo planejado se tivesse uma expressão corporal mais rica e mais diversificada. Pensei que precisava de direção pra aperfeiçoar esta camada, no entanto e pra meu total espanto, a Lua quis entrar na cena.

Foi no Sarau da Kambinda, totalmente a improviso, que a Lua veio contracenar comigo nessa performance pela primeira vez e, como todo nosso trabalho cênico, desde o Grupo Artístico Co-Mídia Dell’Arte, foi sempre no sentido de representar partes de uma mesma pessoa, caminhamos por esse caminho instintivamente. Graças à nossa sintonia apurada, a cena foi brilhante mesmo não tendo qualquer suporte de ensaio ou combinações prévias. Esse sarau, especificamente,  nos dá a possibilidade de experimentar de maneira muito natural, pois tem um clima muito familiar de intimidade e acolhimento!

            Após esse improviso, percebemos que a cena só tinha a ganhar com a presença da Lua, mas os ensaios se tornavam imprescindíveis, uma vez que precisaríamos descobrir as potencialidades cênicas que poderíamos explorar. Feita a divisão do texto e trabalhando tom de voz e expressão corporal, foi se afirmando cada vez mais claramente para nós que nossos papéis seriam novamente partes propositalmente separadas em cena pra que se torne visível a complexidade existencial de uma só integridade.
           
Dessa forma, Lua representa a alma, o universo íntimo, o brilho interior, a pureza das emoções e das ideias; cabendo a mim, portanto, a manifestação do corpo, contido pelas limitações físicas evidentes e pelo convívio em sociedade. O tom irônico que é empregado por Lua e contrasta perfeitamente o tom quase sempre sereno que eu utilizo, é, acima de tudo, uma demarcação de como a alma interpreta o que o corpo recebe, experimenta e transmite.
           
Este maravilhoso processo ainda está sendo explorado, creio que ainda não atingimos nem sequer a metade do que é possível em termos artísticos. Mesmo assim já caiu no agrado de muitas pessoas, pois já foi apresentado no Lançamento do livro “Olhares sobre a inclusão”, organizado por Saulo César Paulino Silva, e novamente na DRE Campo Limpo pra professores de salas de apoio à inclusão, além, é claro de estarmos apresentando um pequeno trecho dela em saraus. Trabalharemos muito nesta performance ainda, mas estas linhas gerais tendem a ser mantidas.

Abaixo, trecho de "Olha pra Gente", gravado por Takumi Matos, no Sarau Suburbano Convicto.


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Galera, temos dois avisos para dar:

  1. Dentro de alguns dias, será publicada uma entrevista conosco no Blog Ler, Analisar e Entender, do nosso querido Hilton Luz, autor de “Viver – Crônicas de Vida”. Neste blog, ele divulga muitos artistas, através de entrevistas inteligentes e muito bem trabalhadas. Vale a pena conferir o trabalho e, claro, a nossa entrevista.  
  2. A EdLua.Artes fará um breve recesso para o natal. Do dia 23 ao dia 28 desse mês, nós estaremos em férias. Então, desejamos a todos os nossos leitores e simpatizantes um Happy Yule e que seja repleto de boas energias, muitas partilhas e momentos de paz e reflexão!

Abraços da noite e beijos de prata!

Ed&Lua

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

"Porta Encostada" por Marcos Rodrigo da Rosa

Edgar e Marcos rodrigo da Rosa

Recebemos ontem por e-mail a brilhante e conceituada crítica de nossa amigo Marcos Rodrigo da Rosa. Ele fala sobre nosso livro "Porta Encostada - Entre a Resiliência e a Obsessão" com maestria e precisão de um perfeito crítico literário.  Leiam-na a seguir... Agradecemos imensamente a crítica e a interatividade, Rodrigo! 



"O livro de Edgar Izarelli é um livro de comunicação: o poeta comunica, tal como os românticos dezenovistas,
as dores, sentimentos, prazeres de seu coração. É um livro de sensações: herança tardia dos simbolistas, traz na sua prosa poética os eflúvios, cheiros, aromas e sabores, a languidez do despertar, a inebria do sonho e dos sonhos.

É um tratado de psicologia, pois explica, explicita os mecanismos do pensamento, da paixão, do desejo; as infinitas elocubrações da racionalidade ante a paixão que lhe arrebata, ante os sentimentos que lhe contorcem o cerne.

É um livro de prosa poética. Uma prosa deliciosa e cuidada, tal qual a de Prost, tal qual Eça de Queiroz.

Poucas são as poesias genuinamente poesias. "Entre a Resiliência e a Obsessão" é um acerto, um achado de perfeição e cinzel de poeta escultor: a rara perfeição entre a racionalidade e o sentimento, o achado esculpido entre poesia e a prosa."

Marcos Rodrigo da Rosa.

Gostariamos de lembrar que adoramos essa interatividade com nossos leitores por temos esse espaço para depoimentos sempre aberto para quem quiser nos mandar críticas sobre qualquer trabalho nosso. Nosso e-mail é: edelua.artes@gmail.com

Também por esse e-mail recebemos encomendas de livros, pinturas, contratações para performances e palestras e a partir de agora recebemos encomendas de camisetas poéticas. Convido-os a conhecer essa nova arte na nova página do blog: Guarda-Roupas Ed&Lua 

Abraços!      


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

"Porta Encostada" por Marcos Rodrigues

Lua, Ed e Marcos Rodrigues
O poeta Marcos Rodrigues, que tivemos a honra de conhecer durante o Praçarau realizado na Bienal de Artes, no dia 8/10 deste ano, acaba de nos presentear e permitir a partilha do texto abaixo falando sobre suas impressões a respeita do nosso livro "Porta Encostada - Entre a Resiliência e a Obsessão" Agradecemos o texto de todo o coração, Marcos!    


"Ele deixou a porta aberta. Eu que sou muito curioso, não me contentei em apenas saber que a porta estava aberta, quis ir mais além. Saber o que tinha dentro daquele universo que resolvi nomear de sala. Dei um passo; acabei descobrindo que naquela sala cuja porta estava aberta, havia uma dor, mas era uma dor amiga, que nunca o deixou a sós e melhor ainda! A ausência com ele compartilhava, e nesse compartilhar dei mais um passo; vi que era somente compaixão, ninguém o entendia e às vezes entendia até de mais! Devido ao cansaço, resolvi cochilar um pouco e percebi que é estranho despertar em corrente de sonhos, liberdade turbilhão. Era só um sonho... Acordei e como é bom ter e ser amigo. Pouco a pouco fui me tornando parte daquilo, aprendi novos significados, ganhei um novo dicionário de sentimentos. Ser grato, ou ter gratidão mesmo sabendo que quem ama está longe, agradecemos pelo simples fato de existir neste louco universo. Na poesia nos confessamos que a saudade é tamanha, mas tem que deixar ir quando realmente ama. Me pego racionalizando, é a saudade que mais uma vez vem se aproximando. Confabulações de escape, perdidos num mar de sentimentos e sentidos, nem vejo a hora passar e quando adormeci já era noite. Agora que acordei, pensando que tudo tinha se resolvido era tarde, “boa tarde!” Ainda perdido entre o tempo e espaço, surge à poesia inesperada da madrugada, ao amanhecer, entrego-me de corpo, alma e coração. A poesia conversa comigo e dentro da sala encontro mais um vão. O assustado! O tempo que passei naquela sala me tornou parte dela. Assustei-me, pois aprendi a viver com tudo isso. Foi o melhor que pude ter ou ser, perder passados não significa muito a não ser ganhar liberdade. Passei a observar cada detalhe daquela sala, mesmo os meus olhos não sendo tão bons puderam ver belos quadros com uma assinatura que dizia ser da lua, mas não a lua que ilumina a noite, mas a Lua Rodrigues que iluminava e segurava a mão de quem entrava naquela sala. O recomeço “Dama do outono.” Os ventos do outono sopraram mais vida para dentro da minha alma, mais sorrisos para os meus lábios, mais coragem para descobrir uma janela e abri-la para que o vento entre com mais velocidade e não só pelas frestas da porta. O cheiro de terra molhada subiu nas minhas narinas, eu pude ver a mãe natureza, ô que beleza! Foi maravilhoso, mas a noite de insônia acabou com a minha irrealidade, deixando-me sem travesseiros, sem cama, sem sonhos para serem sonhados, restou apenas o dia, o bom dia... O todo que estou sentindo e finalmente tudo resolveu voltar para os seus devidos lugares. Só era a saudade que não consegue ficar quieta. O clichê de a saudade identificar-me com palavras novas, mas tudo gira em torno da falta de algo, quando não estamos com quem amamos e de repente mais uma noite de insônia. Lembranças de abraços e palavras amigas que serviam de consolo, nada disso tiveram aquela noite. Deparei-me lendo um livro de poesia para tentar me encontrar ou me perder mais ainda e já era dia, hora de acabar com aquela agonia Por mais que não tivesse abraços, tive que voltar a dormir com quem eu imaginava estar ao meu lado, com os olhos que tantas vezes brilharam, posso ter certeza de que o que foi sonhado acaba de ser acabado. Esse mundo fechado já acabou faz um tempo, vai tentar entender por quatro estrofes desconexas? Saí dessa! Aprendi que devemos viver com críticas, elogios e todas essas coisas. Essa felicidade que me deixou perdido no tempo e os minutos passam-se. Encontro-me com o silêncio que havia desejado e pude pensar em quem amo e quem sempre esteve ao meu lado, abro os olhos, emocionado com a boca cheia de palavras e uma frase que eu também posso dizer: “Eu sou teu!” Como é bom o teu abraço, e ser iluminado pela luz daquele olhar, ser aquecido pelo calor daquele corpo, me resta um pouco de contestação. Tudo me prova que estou vivo para viver e parar com as lamentações. Se isso é sabedoria, arte, delírio, liberdade ou apenas vazio, já não sei definir! Passaram-se vários dias, percebi que a cada dia sentia-me mais ligado aquela sala. Pude perceber que no inicio era uma porta encostada e agora é uma sala que além de me acolher, me da inspiração e forças para seguir adiante! Tudo isso Edgar, eu devo a você, por uma leitura tão gostosa! Tão cheia de sentimentos, ainda não acabou... Equinócios em claro, “folha branca, primavera, madrugada” Entre dias e noites naquela sala, pude aproveitar tudo de bom que lá existe. Entre as noites de insônia e os dias claros como o sol, prontos para um novo recomeço. Obrigado Edgar Izarelli, li todos os teus recados e aprendi com você e a Lua que entre a resiliência e a obsessão, não devemos fechar a porta, é melhor deixa – lá encostada para que possam entrar e aproveitar o que está prestes a ser apreciado."


Marcos Rodrigues




Ficou com vontade de ler o livro? Então, adquira já seu exemplar conosco. Entre em contato pelo e-mail: edelua.artes@gmail.com ou clique em Estante de Livros na guia de páginas acima  para saber mais! 

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Feliz Aniversário, Lua!!!










Bruxos te entendem como ninguém. A mãe lua continua exercendo sua graça sobre a sua filha. E todas as deusas abençoam o que há dentro de você! És deusa da vida (da minha, pelo menos) e tem as três faces daS tuas ancestrais. A tríade faz de teu corpo sua morada e zela os segredos da tua alma. És a lua personificada e, para mim, a sacerdotisa mais sagrada, a única que detém dentro de si a bainha das minhas espadas e os juramentos mais belos e sinceros da minha guarda.
 
És a mescla perfeita e a ligação mais potente da humanidade com a divindade. És o cálice da jovialidade, a fonte da maternidade e o poço da sabedoria. Que seu sorriso respeite a vontade das flores e desabroche sempre brilhante, seja uma luz constante,  como as estrelas que, daqui por diante, nos guiarão pelos caminhos do amor, da prosperidade e da sapiência, para o mundo. Para mim és mais:

És a fonte dos sonhos, o poço da realidade e o cálice do amor inesgotável, que sorvo e absorvo absorto. És meu suporte, meu abrigo e minha cura. És minha ousadia, minha arte e minha consagração! És a integridade que une todas as partes dispersas do meu coração e desperta como um beijo nos lábios, o meu espírito de dragão! És minha completude, minha saudade, minha alegria e minha ânsia de viver. És meu todo sendo minha metade.          

Que a floresta preserve em ti a fertilidade festiva das artes. Que a terra te dê a estabilidade necessária para prosseguir em seu caminho. Que as águas mantenham dentro de ti o fluxo do seu movimento fácil para que transpasse qualquer obstáculo. Que a determinação do raio seja para sempre teu máximo oráculo, mas que não aja sem a calma e a frieza das sombras que guardam e intensificam o brilho que sempre te será dado pela lua e pelas réstias de luz do pôr do sol. Que o vento te liberte e te guie pela mão toda vez que te sentir presa e que, além da liberdade, sopre pros teus braços o sucesso que o fogo forja para ti nos momentos de aço. Acima disto, que universo inteiro vibre todas as suas correntes de energia para fazer de cada um dos teus desejos uma ordem natural aos laços.

Além disso, tenho somente palavras de gratidão por ter me escolhido como seu guardião. Sinto-me honrado, grato e deveras amado ao teu lado! E, embora já te seja sabido, eu sinto a vontade de reafirmar: meu papel em tua vida é te orientar, te proteger e te amar. Espero para sempre ser teu companheiro, a pessoa que pode te compreender e te aceitar, Espero que possas sempre partilhar comigo teus pensamentos mais profundos, tuas histórias mais secretas, teus mais verdadeiros sentimentos e tudo o mais que quiseres dividir, sem intermediações, de uma alma a outra alma!

Eu amo você!  
 

Feliz aniversário, amor!

Edgar Izarelli

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sobre minha nova performance.

Bom dia, galera!

Hoje falarei um pouco sobre um novo trabalho poético-teatral que estou desenvolvendo com a ajuda da Lua. Ainda não tem título, mas creio que até fim da postagem eu consiga dar-lhe nome.  A performance ainda está aberta e, por hora, contém 4 textos de minha autoria, durando, na íntegra, 25 minutos. É o que chamo de micro-monólogo. 

O processo de criação desta performance está sendo uma delícia, pois, mescla uma quantidade inimaginável de novas descobertas, tanto no que é tocante toda a parte de evolução artística, quanto no que tange a parte pessoal. Para mim, está sendo importantíssima esta nova performance, considero-a uma quebra de tabu.

Bom, tentarei verbalizar um pouco todo o processo que fiz até o presente momento. Claro que, como a maioria parte das minhas criações, está teve suas origens em processos pessoais e devaneios artísticos, por isso talvez eu não possa exprimir tudo o que fiz. Alias, dizer que eu “FIZ” me parece até arrogância de minha parte, considerando que a primeira parte deste trabalho é oriunda da necessidade de expressar o que eu estava sentindo no decorrer de uma crise existencial, já recorrente para mim, mas nunca descrita da forma descrevi nessa performance. Tal processo psicológico é decorrente de uma sensação de incapacidade devido a minha condição física, que limita em muitos aspectos da minha vida e me condiciona a depender de outrem para coisas cotidianas.

 Só consigo falar disso abertamente graças à representação artística que consegui extrair da última crise que tive. Falando francamente, sempre tive vontade de escrever algo desse tipo, mas esse desejo sempre foi reprimido, silenciado, inibido pelas minhas próprias convicções artísticas. Desde que me assumi poeta, a linha de trabalho que sempre procurei seguir é basicamente “expressar meus sentimentos, de forma particular, sim, mas que qualquer pessoa possa se identificar”. Em outros termos, escrevo para que as pessoas possam sentir que mais alguém se sente como elas. Falar da minha condição física e de como me sinto em relação a ela sempre me pareceu um tema pessoal demais se comparados aos meus temas favoritos: amor, relacionamentos e arte. Inclusive, quando era mais novo, uma pessoa perguntou por que eu não escrevia sobre a minha deficiência respondi poeticamente com uma poesia chamada “De porque eu sou romântico” falando de tudo o que eu poderia falar e não falava porque não era meu ideal artístico. Claro que evolui muito desde então, mas, mesmo assim, consegui romper o tabu de falar sobre sexo em cena antes de escrever algo politicamente incorreto, mas sentimentalmente exato sobre a minha condição.

Só pude vencer ambos os tabus graças a diversas experiências artísticas desde a parceria com Takumi Matos, passando pelo Co-Mídia Dell’Arte (grupo que originou a EdLua.Artes) e chegando ao apoio da minha amada Lua, que me incentiva a buscar inovações e ousadias através das experiências pessoais que vivemos.

Voltando à performance. O texto que rompeu com o tabu se chama “Escafandro em Curto Circuito” e foi escrito no final de agosto. Dei este nome, por causa da referência cinematográfica “O Escafandro e a Borboleta”.

Professora Maria Lúcia Lopes do Prado,
Uma supervisora e
 Professor Marcos Rodrigo da Rosa  
A oportunidade e a ideia de apresentá-lo de forma cênica me vieram quando meu ex-professor Marcos Rodrigo da Rosa (reencontramo-nos num sarau no primeiro semestre) me convidou a fazer uma intervenção artística num evento da Diretoria Regional de Ensino do Campo Limpo, onde ele trabalha, no dia 9/10. Decidi levar algo chocante e que pudesse mostrar como se sente de verdade uma pessoa com alguma limitação, no meu caso, motora, sendo tratada como incapaz e, ao mesmo tempo, fosse algo desafiante para mim. Para tal apresentação juntei três poesias (“Olha pra Gente”, “Escafandro em Curto Circuito” e “A Caixinha Mágica”) e uma inovação recente que acrescentei a minha atuação durante uma noite em que havia faltado eletricidade em casa: a luz de uma lanterna com opção de foco ou iluminação ambiente.

Minha mãe, professora Laura e eu!
A apresentação foi muito apreciada e elogiada, fiquei eu mesmo satisfeito com o resultado. A junção das três poesias ficou quase perfeita, a luz da lanterna deu um impacto mais profundo à representação.

Abaixo, um depoimento do Rodrigo sobre a performance e sobre o livro “Porta Encostada – Entre a Resiliência e a Obsessão”.

"Você esteve demais, cara! Arrebentou!
 
Minha diretora achou você, além de espetacular, bastante ácido. Ela gosta disso.
 
Os Supervisores também apreciaram muito. Alguns disseram que foi o momento mais poético e sensível que a Diretoria Regional presenciou.
 
Logo vamos enviar as fotos e postar o video no youtube.

Quanto a sua poesia, cara, que foda! Que estrondo!
 
O poema "Entre a Resiliência e a Obsessão" revela um cuidado com a palavra, uma investigação profunda dos sentimentos do ser;
particularmente, revelou-me a mim mesmo.
O ponto fraco de sua poesia talvez seja as excessivas enumerações, como escreveu Borges, certa vez. Mas mesmo as enumerações não me desagradam. Elas são obsessivas. Como tende a ser o nosso pensamento. 
 
Abraços"

Marcos Rodrigo da Rosa
 





Duas semanas depois da apresentação na DRE, já tinha marcada, para o dia 28/10, a apresentação da mesma performance, na escola M’Boi I, a convite da supervisora Simone.

Para a segunda apresentação, já levei algo a mais, o texto contava com a inclusão de mais uma poesia, a “Sobre as Palmas que Vocês NÃO Vão me Dar”, para arrematar o lado artístico, já estou pensando em melhorias cênicas. Novamente muito bem aceita e recebendo ótimas críticas. 





Vídeo de um trecho da performance, gravado no Sarau da Educação e Cultura, dia 18/10:    





A apresentação na DRE ainda m e valeu uma entrevista feita pela Professora Maria Lúcia Lopes do Prado. Em breve a postarei aqui, no EdLua.Artes.

Sobre o título da performance, decidi batizá-la de “O Brilho de uma Alma”    

A performance pode ser apresentada para professores e familiares destas pessoas e para elas próprias, como forma de incentivo à evolução.

Gratidão imensa a todos os que foram citados, especialmente ao Rodrigo pela oportunidade e por me abrir tantas portas!!!

Um abraço

Contatos: edelua.artes@gmail.com ou eioc77@hotmail.com    


Edgar Izarelli de Oliveira

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Crítica sobre "O Ogro e a Tecelã" da Guerreira Xue por Edgar Izarelli


Bom dia, gente!

Tive a ideia de começar a fazer críticas dos livros de autores, principalmente os contemporâneos; mas farei também de autores consagrados. É uma maneira riquíssima de divulgar a literatura e ajudar alguns colegas de profissão, tudo isto enquanto me aprimoro, pois, para mim, ler é pesquisa de campo!      

Hoje, farei uma breve crítica literária do livro “O Ogro e a Tecelã” da Guerreira Xue.
 
Sobre a autora (já a citei neste blog, provavelmente com seu verdadeiro nome, Hilda Milk), conhecemo-na, a Lua e eu, durante a Bienal do Livro. Figura simpática e bastante extrovertida, conversou conosco durante cerca de uma hora, compartilhando conhecimentos e contatos. Ela administra o blog Escritores Sem Fronteiras (1 e 2) e também o grupo no facebook de mesmo nome, onde os escritores partilham contos, poesias, links interessantes, enfim, uma vasta gama de material para quem aprecia a arte da literatura. Vele a pena conferir! (links do final do texto)

Dias depois, nos encontramos novamente e trocamos nossos livros. Acabei a leitura do livro “O Ogro e a Tecelã” alguns dias atrás e estava me dando o tempo certo de sua digestão antes de escrever o presente artigo.

Em linhas gerais, a obra é um livro de contos infanto-juvenis de variadas linhagens genealógicas, quase sempre apresentando características marcantes dos contos-de-fada, o que me deu, em determinadas ocasiões, a sensação de uma releitura de contos já consagrados. Entretanto, contém uma narrativa primária que encadeia as demais, seguindo, basicamente, a mesma linha de raciocínio do famoso texto árabe “As Mil e Uma Noites”. Não sei dizer se tal semelhança foi intencional, mas confesso-me deveras inclinado a acreditar nesta premissa.

Uma outra característica que me chamou demasiadamente a atenção foi o amplo vocabulário utilizado no decorrer de todo o livro, o que foi um tanto surpreendente, artisticamente falando, pois foge à regra básica para literatura infantil, uma vez que não considera a criança incapaz de compreender verbetes requintados da nossa língua. Fico em dúvida de afirmar categoricamente que o uso deste alto calão linguístico seja totalmente deliberado, visando, por exemplo, uma brusca revitalização da norma culta em nossa juventude (processo realmente necessário); é preciso considerar a hipótese de ser natural tal linguagem à autora. No entanto, me parece seguro afirmar que, profissionalmente, usar este vocabulário é um risco que só é assumido, na literatura, por quem realmente a língua; claro, levando-se em consideração o escasso conhecimento que o nosso povo tem da norma culta. Este recurso não atrapalhou, a meu ver, que se mantivesse a oralidade das histórias, mesmo por que ficou evidentemente notória a preocupação da autora em conservar a tradição de se contar histórias para as crianças antes de dormir.

Guerreira Xue, Ed e Lua
Além disto, a maioria das histórias narradas é baseada numa literatura considerada nova, onde os antagonistas têm sempre uma razão e/ou uma personalidade que justificam seus atos. Entretanto, a maioria dos contos presentes neste livro não tem exatamente a figura antagonista clássica, apresentando, muitas vezes, uma situação-problema em seu lugar. É interessante, pois isso propícia a formação do senso crítico, habilidade que é ainda mais incentivada pela própria divisão do livro em uma narrativa primária durante a qual os contos são contados.

Para que todos entendam, a narrativa primária apresenta um menino de dez anos de idade chamado Guga, ele é filho de uma escritora e pergunta a mãe se ela sabe contar histórias. A mãe responde que ela própria escreve histórias e começa contá-las uma por noite.
Devido a esta constituição narrativa, a autora consegue registrar não só os contos em si, mas, entre eles, também registra a reação do garoto, seus questionamentos e impressões sobre os contos que a mãe narra. É uma característica marcante do livro e pode funcionar como um ponto de partida pra uma discussão mais profunda.

O livro contém seis histórias:

O Ogro e a Tecelã – Uma história que mescla muito bem todos os elementos de um suspense. Um ogro, uma tecelã, uma bruxa, uma mãe louca, um filho desaparecido e um marido cauteloso, em um reino que esconde algum segredo.

A Viola Encantada – As aventuras de Zózimo, o pequeno elfo, parece metaforizar, na minha interpretação, um programa assistencialista ideal e certamente faz ao transformador da arte na sociedade.

Água de Chuva (Amanari) – uma emocionante história de amor dos povos indígenas que mostra o ciclo perene da vida como o ciclo das águas.

A Rata e o Dragão – É um conto escrito em grupo. Para mim, se assemelha a uma releitura do clássico “o Leão e o Rato”. O texto apresenta várias reviravoltas interessantes.

Acorda, Catarina (meu favorito) – Uma moça intuitiva é taxada de louca por um comportamento e uma certeza peculiar. A cidade inteira zomba dela, mas ela mantém o hábito. Até que um acontecimento decorrente de sua mania muda toda a sua vida.

Natal com Jesus (na minha opinião, o mais surpreendente) – Uma menina cai num rio e é salva por um misterioso Jesus, o tipo é descrito como um mendigo. Quem é esse Jesus? É realmente inesperado o desfecho deste conto.

Novamente em linhas gerais, o livro propõe desfechos surpreendentes, rápidos (poderiam ser um pouco mais trabalhados e mais lentos, mas, considerando impacto positivo que me foi transmitido, não vejo erros na técnica escolhida) e abertos, características essas que tornam a obra uma leitura altamente estimulante e formadora de senso interpretativo e crítico. A autora claramente é dotada de um enorme talento, porém, eu gostaria muito de ler uma narrativa mais extensa e mais detalhada, feita para um público que já tenha senso crítico desenvolvido, para adolescentes ou adultos, por exemplo. Penso que seu estilo poderia ser mais bem aproveitado em coisa menos fantásticas, mas guardando sim o conceito do inesperado, como nos dois últimos contos do livro!  

Retenho-me por aqui.

Abraço!

Links: 


Edgar Izarelli.  

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

História de Ed & Lua














Uma estrelinha me perguntou como conheci a Lua... Minha resposta naturalmente saiu acordando com as regras da escrita poética!

Estrela minha, minha menina, muitas vezes, conhecer não basta, é preciso reconhecer! E foi assim que reconheci a Lua:

Era início maio, e minha “Dama do Outono” não falha em me trazer a renovação dos ciclos. Um sarau maravilhoso nos acolhia na Casa de Cultura Santa Tereza, a deusa Poetisa me abençoava, me fazia declamar "A Caixinha Mágica" e a mágica da minha caixa pulsante era a Lua, mas ainda não o sabia.
Lua era abençoada pela Música! Brilhava esplendidamente na minha frente, como se pedisse diretamente ao meu sentimento: "Não me abandone jamais!". Eu estava inclinado para o lado errado do meu ser e, cego de mágoas anteriores, iludia-me e cobiçava uma pedra preciosa aos valores terrenos e não reconheci de imediato a deusa celeste que guiaria minhas marés. De certo, porém, algo naquela mulher já havia me cativado. Seu sorriso, seu olhar, sua voz... O abraço quente durante as manifestações do inverno daquele ano.

Levou o tempo calmo, sim, de formamos uma bela amizade até que nos reconhecêssemos almas gêmeas. Ela foi me mostrando todas as suas fases e todos os sonhos que pintava das imagens que via em seu coração. A Lua era um anjo abrindo as asas e eu a guiei no primeiro vôo. O primeiro sinal veio diretamente de seu coração, uma lembrança de alguma vida interior, cheia de simplicidade e alegria, que tínhamos, sem saber, mas querendo muito, resgatado ao nos abraçar.

Lembro-me, como se tivesse sido hoje mesmo, do nosso primeiro encontro a dois. Aconteceu por força do destino, após uma reunião sobre a conferência municipal de cultura... Pedi a ela que ficasse comigo naquela tarde, ela ficou... Eu deitado em seu colo, no banco de uma praça, a conversa transcorria leve como “um sonho de uma noite de verão” sobre a espiritualidade da natureza. A própria rainha das fadas parecia estar presente para dar as primeiras bênçãos ao casal que se formava. As estrelas brilhando sob o sol de primavera e o céu azul de Agosto davam ao local uma certa magia peculiar que nos deixava muito à vontade. Era-me então impossível não a reconhecer minha mulher, minha companheira de vida e até, quem sabe; de outras vidas! Sua beleza refletia claramente a beleza de sua alma. Aqueles cabelos cacheados ao vento, a saia longa, o sorriso calmo, olhar doce que espalhava sua prata sobre meu corpo e o coração melódico e sem pressa.

Mesmo com tantas evidências, eu ainda relutava com a ideia de estar apaixonado pela musa de todos os outros poetas. Muitas outras almas se encantavam e dedicavam á ela a poesia que me era tão amiga e tão íntima travestida em outros estilos, que, aos meus olhos, eram menos suaves, mas igualmente sinceros, ternos, belos...      

A própria rainha das fadas teve de voltar e emprestar, por um instante, toda sua elegância e divindade, à minha sacerdotisa lunar, para que eu, trajado de rei dos elfos, no epílogo de um ensaio, pudesse a reconhecer novamente e dissipar qualquer dúvida que ainda pudesse enevoar a visão perfeita do meu coração. Aquela Lua setembrina era mesmo a rainha da minha natureza!

A partir de então, e de novo, foi a estrela-guia da arte que nos aproximou, mas, dessa vez, sob ares de pretextos. Organizações de eventos, os eventos em si, um novo grupo de teatro, ideais artísticos, poesias de rua, amigos valiosos, madrugadas viradas em versos, apresentações, percepções, muitos carinhos, mútuos caminhos trilhados conjuntamente... Momentos a sós! E “a loucura é”, de fato, “a cura, se o ventre que a concebe a entende por amor!”

A decisão final ainda parecia distante, meus traumas me prendiam. No entanto, a Lua sempre soube desconsertar os muros de meu coração, demostrando com todas as suas atitudes, exatamente o que ela queria. Tão determinada e fortemente, que já me era impossível dizer não. E ainda, para completar as coisas, os ciúmes, às vezes, vêm para o bem... Não a queria roubar do mundo que ela parecia prezar, mas não podia deixá-la ir sem que soubesse dos meus mais sinceros sentimentos e fui forçado a admitir para mim mesmo e para ela que eu é que precisava desse amor! Que eu a "amo como quem espera pra nascer!"

Em resposta, outubro abriu-se com a graça um beijo de amor que me foi, verdadeiramente para mim, o primeiro! A "Cumplicidade" tão natural aos amantes, foi ainda mais natural para nós, que entendemos e apreciamos a natureza de ser natural! Com essa mesma naturalidade, nossas mãos se deram à chance de se mostrar e permanecem dadas até hoje.

Descobri, naquele instante, que é a minha missão maior refletir para a Lua a própria beleza e me tornei mar irrestritamente profundo e transparente para espelhá-la em meus olhos, em minha pele e essência.

De lá para cá, se derramaram pouco mais de 13 luas de amor na ampulheta da vida e elas acompanharam muitas escolhas, decisões, mudanças de pensamento, discussões, crises existenciais, continuidades, a confiança, a intimidade, viagens, trabalhos a dois, sucessos, medos, inovações, saudades crescentes, mandalas da Lua Cheia, chuvas de estrelas e agora a distancia está finalmente minguando...

Não nos fora sequer necessária a formalidade de pedir, já estava tudo certo para a eternidade que agora começamos a viver! Toda a nossa história registrada pelas sábias mãos da arte! Nossa poesia, toda a poesia que se exala de nosso amor, é uma imensa Luz de Prata que nos cura a alma e nos faz reverberar a força de ser espelho luminoso do amor e de todos os seus obstáculos derrubados!

Amor, minha Lua, meu sentimento por você não para de crescer e já transbordou por todas as futuras páginas da minha história. Muitos livros ainda haveremos de escrever e ilustrar, muitas performances ainda estão por se apresentar, muitas obras-primas pra criar... Mas a arte se tornou mais bela e mais palpável quando se revelou "ESPELHO" da nossa realidade! Espero poder continuar re-conhecendo você dia após dia!     


Edgar izarelli de Oliveira

sábado, 4 de outubro de 2014

Novo texto sobre aborto: perspectiva feminina.

Vou me pronunciar a respeito dos debates sobre a legalização do aborto.
Que fique claro que:
*É a minha opinião, portanto vão existir discordâncias ou concordâncias com o que você que está disposto a ler*
*Já que o problema é que "homens não podem falar sobre coisas de mulheres porque não são mulheres", então eu que sou uma mulher vou falar sobre o texto de um homem, defendendo os argumentos do mesmo*
Eu não defendo a legalização do aborto. E por quê eu devo discutir sobre isso?
Porque ao contrário do que muitos pensam, é necessário ter opinião hoje e sempre. Se pronunciar e debater sobre a sua opinião é necessário hoje e sempre; para que nós possamos ampliar a nossa visão a respeito de nós mesmos e principalmente pra reafirmar um pensamento ou mudar de opinião.
Não tenha medo de mudar de opinião. É natural que as mudanças aconteçam, elas fazem parte da nossa evolução. Mudanças são necessárias no nosso crescimento e no nosso senso crítico.
Mas, se você acredita firmemente em alguma coisa e enxerga claramente que tem alguma coisa errada nesse sistema em que crescemos e aprendemos a sobreviver... Então sustente o que você acredita, sem medo! Mas sustente de forma consciente e estude todos os pontos de vista possíveis.
Eu já fui a favor do aborto, há pouco tempo atrás. Acreditava, como muita gente acredita, que a mulher deve ter livre arbítrio e fazer o que bem entender com seu corpo, porque afinal do nosso corpo só nós mesmos entendemos.
Sim, quanto ao livre arbítrio, acredito estar certíssima e convicta. Só que, defina pra mim o que é o livre arbítrio?
Antes de eu mesma responder essa pergunta vou contar uma história:
A história do condicionado e da condição.
Desde que eu nasci, como mulher, fui educada de determinada forma.
Na escola me diziam que meninas devem desenhar flores e meninos carros, caso contrário a criança é um "candidato a homossexual".
Meninas não podiam jogar futebol com os meninos.
Quando te perguntam sobre o que você quer ser quando crescer, as possíveis e comuns respostas eram: Jogador de futebol, astronauta, médico (a), modelo fotográfica, veterinário (a) ou professor (a).
Crescemos e vamos aprender sobre o corpo. Um tabu tão enorme, que quando a professora fala "pênis" ou "vagina", a reação dos alunos é rir desesperadamente de vergonha alheia.
Aí falamos de sexo, educação sexual e a política (patética) de prevenção da gravidez indesejada do governo. Aprendemos que podemos ter relação sexual (com uma pessoa do sexo oposto de preferência, porque com pessoas do mesmo sexo é "feio") e, que a mulher é naturalmente fértil após a primeira menstruação, portanto a gravidez pode acontecer, seja lá por acidentes ou por falta de prevenção mesmo.
Aí nós (mulheres), aprendemos os métodos de prevenção femininos e apenas um dos métodos masculinos, que é a camisinha que todos conhecem. Nos entupimos de lixo industrial, que é essa ***porcaria*** de anticoncepcional, que nos deixa instáveis e com os hormônios insanos, mas que nos dá uma pequena segurança durante o ato sexual.
Tudo que nós (mulheres) temos é MEDO.
Medo de engravidar e de estragar tudo. Estragar os estudos pra faculdade, estragar a barriga, medo de receber críticas que doem. Medo de ser expulsa de casa, medo de ser rejeitada pelo parceiro, medo de estar totalmente sozinha.
MEDO MEDO MEDO MEDO MEDO
Por quê tanto MEDO? Engravidar é tão natural quanto menstruar, tão natural quanto se apaixonar...
No meio do caos ainda nasce vida! Ainda somos férteis, porran, não é lindo?
Não! É foda! Ter essa responsa toda nas costas por simplesmente ser quem eu sou...
Mas olha... O condicionado sobrevive com base na condição.
Aí entra o fator social da coisa, que é a condição.
Seja você rica ou pobre, tenha seus pais ou não; esteja bem de vida ou não: Se engravidar antes de determinado tempo, você vai pensar em abortar.
Não que você necessariamente vá concluir o ato do aborto, mas você vai pensar. Porque você está CONDICIONADA.
Vai se sentir burra, culpada, infeliz e tudo de mais lixo que possa existir. Porque é triste não ser bonita aos olhos sociais, é triste, além de ter que enfrentar o problema financeiro da coisa, ter que enfrentar uma corja de gente mal amada te dizendo coisas do tipo:
-Ah, agora já foi né, tá feito! Que venha com saúde então.
-Nossa mas você é tão nova, tão bonita, você sabe que vai acabar com a sua vida né? Vai ficar gorda e com estrias... Mas... Parabéns (rs).
E tantos outros, mas acho que todo mundo já entendeu.
Algumas das mulheres cedem a essa condição e, decidem ir à uma clínica de aborto (porque dificilmente, numa gravidez não esperada, as mulheres sabem que estão grávidas antes de passados pelo menos dois meses) e, nesse caso quase sempre é necessário procedimento cirúrgico. Remédios resolvem as vezes, mas é um risco muito maior a se correr.
Bom, agora que entendemos (ou não, aguardo nos comentários) as condições a que somos submetidas, vou explicar o fator "livre arbítrio" e o fator "vida".
O livre arbítrio, sem mais delongas ou formalidades, é o poder de decisão que nós temos sobre nós mesmos.
Que é daquelas de: religião, o que comer ou não comer, com quem transar, com que roupa sair de casa, o que considerar repulsivo e o que considerar tolerável, se sentir bonito ou feio, que festas ir, com quem conversar, sobre o que conversar e blá blá blá..........
MAS: Tudo isso, sem que você interfira na vida alheia.
Não é porque você acredita em alguma coisa, que seu amigo também tem que acreditar. Não é porque você considera repulsivo, que você tem o direito de matar quem comete determinado ato. Não é porque você não gosta de maconha, que você tem o direito de bater no fumante ou tentar persuadir.
NINGUÉM tem o direito de interferir do livre arbítrio de outro alguém. Somos pessoas diferentes, com objetivos diferentes e perspectivas diferentes.
E se for a mãe e seu bebê?
Um feto, tem poder de decisão?
Bom, eu vou dar um exemplo similar a esse, pra tentar explicar melhor o que eu quero explicar.
Uma mãe tem seu filho, ele cresce um pouco e é diagnosticada uma doença super séria de má formação, que implica no resto da vida daquele novo ser: ele estará vivo, porém vai ser incapaz de mexer o corpo e a boca, incapacitando a comunicação, vai ser incapaz de ouvir também, portanto nunca vai conhecer o som das palavras. Lhe foi designada a sua situação, não terá tanto tempo de vida, cerca de uns dez anos, ou menos...
O que a mãe vai fazer diante disso? Ele é por lei incapaz de tomar decisões por si portanto cabe a mãe fazê-lo.
E ainda tem a comunicação, que será praticamente impossível.
Ela pode pensar em poupar uma breve passagem, mas que será de algum sofrimento, com a morte imediata daquela criança (por assassinato, não importa o método). Seria uma "solução".
Mas ela NÃO PODE. Por mais que ela queira evitar o futuro sofrimento do seu filho.
Isso não é imposição "conservadora", isso é a natureza básica das coisas.
E quando alguém diz: -É melhor abortar do que ter filho pra ficar sofrendo jogado no mundo....
Porque alguém tem o direito de interromper a vida de outro alguém? Seja lá em que estágio de vida este ser esteja, É CRIME.
A sua vida, saudável, instável e correta, pode ser bem mais triste do que a vida daquela criança que nasceu doente ou, de uma gravidez indesejada.
Devemos respeitar o caminho de todos, o destino de todos!
Por quê viemos ou, pra que estamos, é de conhecimento nosso, somente nosso. Assim como se deve respeitar o direito da criança que nasceu doente mas que foi muito desejada por sua mãe e pai, também se deve respeitar o início da vida de um ser que não pode se expressar em palavras ainda.
É o destino de uma criança que está em formação, que precisa apenas do abrigo no útero da mãe pra nascer e conviver de fato na nossa sociedade.
É uma vida que está se formando.
O livre arbítrio já não é mais livre arbítrio quando interferimos nesse mesmo direito que tem o outro. 
E quando perguntam assim: -A vida da mãe vale mais que a vida de um feto???
POXA VIDA.
Resposta: AS DUAS SÃO VALIOSAS. As duas tem o MESMO VALOR.
Ninguém deve morrer, todos devem viver.
A não ser que em sã consciência a pessoa queira se matar, por qualquer que seja o motivo . Tu faz o que quiseres com seu corpo! MENOS, quando você tem outro corpo sendo gerado dentro de você. Por que aí não é mais só você, tenha a fineza de esperar nove meses para se matar...
Eu defendo o livre arbítrio, de qualquer que seja o indivíduo ou forma de vida.
Eu defendo a liberdade desses discursos conservadores, defendo a liberdade desses discursos extremistas. Defendo a vida, desde quando ela está se formando.
Eu defendo a natureza, defendo o direito das formigas e das baratas!
Não se trata mais do direito do forte e do fraco, do capaz e do incapaz.
Somos todos iguais, a partir do momento que a vida é consumada, ela tem tanto direito de viver quanto você, que já nasceu ha algum tempo.



Veja bem, não existem apenas dois pontos de vista. Esse lance de discutir aborto e qualquer outro tabu existente, pode ser discutido de uma perspectiva menos DIREITA OU ESQUERDA. Sejamos HUMANOS, sejamos LIVRES de um vez por todas!

Lua Rodrigues

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A legalização do aborto – a criminalização da gravidez, a manipulação do sistema e o machismo travestido.

A legalização do aborto – a criminalização da gravidez, a manipulação do sistema e o machismo travestido.  


Fatores preliminares:


1. O aborto é considerado, nas disposições legais vigentes, crime contra a vida, baseando-se no preceito de que o embrião é dotado de vida desde sua concepção e, portanto, digno de aparatos legais que o protejam. Os artigos do código penal referentes ao tema são:

Art. 123
- Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124
- Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro

Art. 125
- Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126
- Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Forma qualificada.

Art. 127
- As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Art. 128
- Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Informação Extra
ADPF 54 diz respeito ao aborto eugênico ou antecipação terapêutica do parto.  
 O Aborto eugênico não está previsto em lei, sendo, contudo, reconhecido como legítimo pela doutrina e jurisprudência, ocorrendo quando demonstrada a inviabilidade da vida do nascituro fora do útero, em razão de anomalias, malformações e/ou doenças.


  1. Pela legislação vigente no Brasil, o aborto é legal em caso de gravidez decorrente de estupro, anencefalia e gravidez de risco.
3.  A regulamentação das cirurgias contraceptivas (vasectomia e laqueadura tubária) estão atualmente com a seguintes restrições legais: Não podem fazer a cirurgia pessoas com idade inferior a 25 anos ou que não tenham 2 filhos ou mais.
4.  A maioria dos casos das vítimas fatais do aborto clandestino são menores e são, antes, vitimas de severas críticas por parte da sociedade, abandono familiar, e desamparo psicológico. A isto chamo de “criminalização da gravidez”.

5.  Nos países onde o aborto é legalizado, entende-se que o embrião humano não é dotado de vida durante os três primeiros meses de gestação por não ter o sistema nervoso formado.     

      6. Segundo estimativa, cerca de 1 milhão de abortos são realizados clandestinamente por ano no Brasil.  

Antes de mais nada, gostaria de dizer que não estou discutindo isso por questões religiosas/pessoais, meus argumentos são baseados em estudos científicos e dados sociais. Minha posição política é derivada da interpretação que faço dos fatos apresentados e esse julgamento interpretativo acontece da mesma maneira para todos os humanos, pois é assim que se formam os conceitos. Dito isto, prossigamos a discussão. 

Se não conseguirmos tornar nem a gestação de um novo ser um processo pacífico ou, pelo menos, não traumático, para as mulheres que o estão gerando; também não conseguiremos criar uma situação social livre de traumas. Por que nos preocuparmos em combater a criminalidade do aborto, se podemos combater a criminalidade anterior? Nossa sociedade ataca ferozmente mulheres que engravidam antes de um tempo social/econômico considerado correto (que JÁ É ANTINATURAL, biologicamente falando, pois o corpo da mulher está apto a gerar filhos com plena saúde dos 18 aos 30 anos), mas exige, subliminarmente ou não, que elas tenham uma vida sexual ativa cada vez mais precoce. Mulheres com uma vida heterossexual ativa NATURALMENTE vão ficar grávidas. Atacar isso da maneira como a sociedade faz, é a mesma coisa que proibir que faça sol no deserto por que o ambiente é muito seco. Se a intenção é controlar a natureza, favorecendo a este sistema que nos obriga a conviver com misérias e carências, legalizando uma morte prematura para justificar a criminalização da gravidez, eu estou permanentemente contra.

Abortistas da corrente feminista tem seu argumento principal pautado no DIREITO que a mulher deve ter sobre o próprio corpo e no legitimo preceito de que ter total autonomia sobre o próprio corpo passa pela liberdade de poder escolher querer ou não a GRAVIDEZ (e aqui está O ponto de discórdia); entendendo, é claro, como supracitado, que um embrião humano não é dotado de vida antes da formação cerebral. Tal pensamento tem origem no conceito médico de que o diagnóstica de óbito se dá quando ocorre a morte cerebral, portanto, antes da formação cerebral o indivíduo também está morto. A alegação também se baseia na falta de consciência sobre a própria vida ou da incapacidade perceptiva de qualquer sensação proveniente da ausência de sistema nervoso formado, por isso, o embrião é considerado apenas uma extensão corporal da mulher; cabendo, portanto, à mulher a decisão de extirpar ou não essa extensão.

Até o ponto de ter o direito de fazer o que bem entender com o PRÓPRIO corpo, somos unânimes. A minha ressalva não prejudica o direito requisitado pelo feminismo, inclusive, defendo abertamente que seja feita uma revisão na regulamentação das cirurgias contraceptivas definitivas de ambos os gêneros (laqueadura de trompas e vasectomia), visando uma maior amplitude funcional, para que a mulher possa decidir se quer ou não ter a possibilidade de engravidar. É preciso ressaltar que ter a possibilidade de ENGRAVIDAR, obviamente, é uma decisão que a mulher toma sobre seu PRÓPRIO corpo e isso, sim, deve ser totalmente legal, como, de fato, é; caso contrário, não existiria uma gama tão diversificada de métodos anticoncepcionais, incluindo, como último recurso, a pílula do dia seguinte. A grande questão que eu defendo é que durante a gravidez (e somente durante este processo), o corpo da mulher NÃO é só dela. Por gravidez, entende-se que tem outro corpo se formando e isto é factual!

As únicas discussões plausíveis dentro da questão da legalização do aborto são:

1. O embrião é ou não dotado de vida antes da formação do sistema nervoso?

2. Independentemente de ser dotado de vida, esse novo corpo que está sendo gerado DEVE ser considerado parte do corpo da mulher?

Para responder a 1ª questão, escrevi este texto:

Não vou nem discutir a questão da consciência sobre a própria vida. Esse ponto é indiferente, por ser lógico que tal consciência não se forma na vida intra-uterina.

O que interessa é: “A vida necessita de um sistema nervoso completo para ser considerada vida?"

E, nesse ponto, a própria ciência se contradiz. Ao afirmar que a vida humana só começa a partir da formação cerebral, estamos negando que, com um mês de gestação, o embrião formou o tubo nervoso que originará a medula espinhal e o cérebro. Lembrando que vários grupos de animais como os ecnodermatas e os anelídeos como as estrelas-do-mar e as minhocas, por exemplo, possuem somente este mesmo tubo neural e são estudados, até onde posso me lembrar, como seres vivos, pertencentes ao reino animália, assim como nós. Mas a contradição nem termina por ai: protozoários, bactérias, fungos, plantas e até mesmo vírus são considerados seres dotados de vida. Pois bem, agora respondam-me: cientificamente falando, um embrião humano de um mês de vida, que já tem, sim, sua rede neural iniciada, é menos vivo que um vírus? Além disto, antes da formação do sistema nervoso completo, um embrião possui fígado e coração em perfeita funcionalidade. Vale considerar que a formação completa desse tubo neural é de suma importância para a saúde do futuro feto, pois, o mau fechamento deste tubo é o que ocasiona a anencefalia; doença congênita que impede a formação do cérebro.

Abortistas geralmente respondem a isso da seguinte maneira: Um vírus é um ser completamente formado, enquanto que um embrião é um ser que está propenso a se tornar um humano e o processo de formação depende de vários fatores.

Para rebater esse argumento, digo que a informação necessária ao desenvolvimento do embrião está no código genético que lhe foi conferido na concepção. Se compararmos a cadeia cromossômica de um embrião com a de um adulto, veremos que ambas possuem os mesmos 46 cromossomos (excluindo-se em algumas anomalias genéticas) que caracterizam a espécie humana. Portanto, um embrião humano NÃO deixa de ser humano por ser embrião e estar em seu estágio inicial de desenvolvimento. Isso, sem contar com fato óbvio de que o principal fator para o desenvolvimento de um embrião é a permanência no útero.

Interpretações são variáveis mesmo se observamos atentamente os mesmos fatos, então, deixo a cada leitor a possibilidade de questionar as minhas interpretações.   

Se a 1ª questão for respondida de maneira afirmativa, toda a discussão acaba. Uma vez que, se reconhecermos um embrião como vida, o aborto de fato seria um assassinato, pois, assumindo que é vida, é vida humana, não importando o estágio. Tirar vida humana intencionalmente se chama homicídio.  

Na 2ª questão, o embrião é DEPENDENTE do corpo da mãe, isso é fato, mas essa dependência realmente o torna PARTE DO CORPO da mãe? O cordão umbilical se forma, justamente, no 3º mês da gravidez, quando também se forma o sistema nervoso. Antes disso, como já foi dito, o embrião já tem batimento cardíaco; portanto, o batimento cardíaco do embrião é INDEPENDENTE do da mãe. Claro, não sobreviveria fora do útero, mas isso o torna parte da mãe ou só incapaz de sobreviver em outro meio, momentaneamente? Além disto, após 6 meses de gestação, se a mãe morrer em decorrência de qualquer parada no funcionamento de seu corpo, há possibilidade de sobrevida do feto em uma incubadora. Essa é a real função da mulher: incubar, abrigar o embrião até que este possa sobreviver em meio externo. Isso não o faz parte dela, isso só faz da mulher um sistema orgânico maior.

Isso já derruba por terra todo o argumento de que esses movimentos pró-aborto estão lutando para ter o controle sobre o PRÓPRIO corpo. Para alcançar esse objetivo, repito, bastaria que se mudasse a lei sobre a laqueadura e a vasectomia e se investisse em pesquisa nessa área, para que se torne 100 % reversível; o que é praticamente mais fácil, embora, legalmente, as duas necessitem apenas de alterações nas leis vigentes, já que não interfere na vida de mais nenhum indivíduo (ou “aspirante” a indivíduo).

           Mas por que, então, o sistema prioriza uma solução que é mais inviável?

          Argumentos pró-aborto dizem que uma mulher pode mudar em relação ao desejo de ter filhos e que as cirurgias anticoncepcionais não garantem tal reversibilidade.

           É, é verdade, não garantem 100% de reversibilidade. A taxa, segundo pesquisas atuais, está em 80% se a reversão for feita antes dos 30 anos e isso poderia evoluir com pesquisas. Mesmo assim é mais fácil para o sistema convencer as pessoas a fazer algo momentâneo, pois assim se preserva o imediatismo que foi implantado. Vamos pensar por quê?

           Além de ser muito mais fácil e interessante para o governo manipular a massa do que mudar o mudo de fazer politica, ainda é economicamente mais vantajoso para grandes industrias do setor da saúde que o aborto seja legalizado!               
  
A luta pela legalização do aborto, no meu modo de ver, é um desdobramento da fragilidade psicológica com a qual temos convivido desde que nossas bases familiares foram tiradas para suprir as necessidades econômicas de nosso país. Somos capazes de fazer tatuagens na juventude, mas não somos capazes de assumir que escolhemos não gerar filhos. O grau de permanência é menor na cirurgia do que na tatuagem. E caso a cirurgia não seja reversível, a mudança de desejo, segundo os próprios abortistas, é por razões econômicas favoráveis à criação de crianças e não por razões biológicas (muito embora, pesquisas sobre a reversão das cirurgias indiquem que a principal motivação para as pessoas desejarem tal procedimento seja o encontro de outro parceiro sexual), para satisfazer o desejo de criar um filho, existe a adoção. Poderiam ser criados programas de incentivo à adoção, auxiliando, assim, todo um movimento benéfico à sociedade. Quem faz a cirurgia deve estar ciente de que é uma decisão que pode ser irreversível. Quem não estiver afim de assumir a escolha, que assuma os riscos e se preserve, caso tenha vida sexual ativa.

No entanto, será que o sistema prioriza a questão da reversibilidade?

A resposta é: Certamente, mas não pelo motivo certo.

Nosso sistema é regido pela "lucrabilidade" dos negócios e, no sentido de que uma mulher pode abortar quantas vezes "quiser", é bem mais vantajoso incitar um debate sobre isso e manipular a massa para que queiram legalizar uma solução mais momentânea ao invés de uma mais definitiva. Assim, as empresas que vão dominar a venda de medicamentos e equipamentos, poderiam lucrar mais de uma vez sobre a mesma mulher. 

Há um terceiro ponto na discussão sobre o aborto: o fator social, composto por vários argumentos. Há abortistas que dizem, por exemplo, que o aborto é uma questão de saúde pública. Considerando que, uma vez que é fato que ocorre clandestinamente, vitimando muitas mulheres por falta de acompanhamento médico adequado; alegam que, se fosse legalizado, esse problema acabaria.

Neste ponto, o argumento é plausível, mas, isso só seria verídico se tivéssemos, antes dessa legalização, um sistema de saúde pública decente. 

Vamos encarar a realidade: vivemos num país onde se marcarmos uma consulta médica pelo S.U.S, não seremos atendidos antes de três meses (com sorte) e muita gente morre nas filas dos exames. Imaginemos como funcionaria com a legalização do aborto: seria necessária uma ação rápida, pois, se a mulher descobrir que está gestante ainda no 1º mês, o que é raro, ela teria dois meses antes da formação do sistema nervoso e o embrião ser considerado vivo pelos próprios abortistas.

 Internação imediata seria a resposta? Mesmo com uso de medicamentos para abortar (só funcionam até os três meses de gestação e são passivei de falha) que tornam desnecessária uma intervenção cirúrgica, a mulher pode ter complicações ou o remédio pode não surtir efeito, tornando necessária a cirurgia; então, medicamente falando, a internação se faz necessária. No entanto, isto minaria a possibilidade de uma intervenção psicológica e de uma assistência social adequadas anteriores ao procedimento abortivo, como pretende o próprio movimento pró-aborto.    

Internação, mas onde?

A resposta que geralmente dão é: Maternidade.

Nossas maternidades sofrem escassez de leitos atualmente, devido ao grande número de cesarianas e episiotomias feitas desnecessariamente, gerando a necessidade de uma internação prolongada devido ao tempo de recuperação decorrente dessas cirurgias ser maior do que o tempo de recuperação do parto natural. No caso da episiotomia, ainda temos a complicação de fazer a mulher passar por outra cirurgia (episiorrafia) para restaurar o dano causado. E, pondo em mesa tudo isso, a quem deve se dar prioridade? A quem quer abortar, por causa do tempo de gestação, ou a quem está em trabalho de parto? Lembrando que as três cirurgias supracitadas só vêm sendo tão largamente utilizadas na intenção de economizar tempo do profissional obstetra, que não dispõe de tempo para acompanhar devidamente partos naturais, devido à quantidade de partos que tem de fazer.

Pronto socorro ou centro cirúrgico? São as opções restantes. Ambas inviáveis pela prioridade de casos. Não podemos deixar de operar alguém que precisa, por exemplo, de uma histerectomia para tratar de um mioma, por que isso, sim, é um problema de saúde que pode matar, para tratar de uma coisa que nem é uma doença, mas um processo natural do corpo. Legalizar o aborto seria aumentar o caos do sistema público de saúde. No que possuímos hoje, pelo menos.

É uma atitude errônea e, pior, IRRESPONSÁVEL pensar em legalizar alguma coisa sem ter uma infra-estrutura que suporte as consequências de tal procedimento legal. A NOSSA PRÓPRIA HISTÓRIA PROVA ISSO.  Durante TODO o processo abolicionista (escravatura) se combateu um sintoma do pensamento racista, não a sua causa. Ninguém se preocupou em garantir uma infra-estrutura para que a população negra, ao se libertar, pudesse realmente usufruir de sua liberdade. Como consequência da irresponsabilidade abolicionista, os negros pós-abolição tiveram de submeter, agora por vontade própria, a trabalhar ganhando muito pouco para sustentar um novo sistema econômico. Os que não se submeteram, se marginalizaram, aumentando o racismo. Tudo isso levou à formação das favelas e da desigualdade social. 
A implicação do descaso ainda pode ser pior, pois, analisando o contexto da revolução industrial, fica claro que pode ter sido, não um descuido, mas um ato premeditado. Precisava-se de mão-de-obra barata, assalariada, pois a intenção era que pudessem comprar o que eles mesmos produziam; levou-se em consideração que os negros continuavam a fugir para populações quilombolas, mesmo com as politicas de ressarcimentos empregadas pelo império( Sexagenários e Ventre Livre), chegando-se a conclusão de que libertar a população escrava não só acabaria com o dano ao "patrimônio" dos senhores, como também os OBRIGARIA a trabalhar novamente para eles. 

A história está fadada a se repetir com a legalização do aborto?     


A quarta resolução possível para a questão de onde se daria a prática abortiva seria legalizar os locais onde a prática já é feita clandestinamente. Entretanto, essa alternativa só seria minimamente aceitável, pensando em uma privatização do setor, visando uma garantia de remodelação e reestruturação tanto do espaço físico quanto dos recursos humanos envolvidos, o que, certamente, aumentaria muito o preço cobrado pelo serviço e a legalização do procedimento visa, justamente, atingir diretamente as camadas mais baixas da sociedade; pois é lá que se encontram as pessoas financeiramente desfavorecidas e que, geralmente, tem pouco ou nenhum conhecimento sobre métodos contraceptivos. Por isso, quem pensa em legalizar o aborto, pensa também que é uma tarefa do estado dar as garantias e fornecer os espaços e os profissionais adequados para isso. Todavia, a estatização destas clínicas clandestinas exigiria muitos recursos tributários para sua adequação e manutenção. Para tal empreitada, seriam necessários cortes em outros setores e/ou um reajuste tributário. E isto facilitaria esquemas corruptos.     


Além disto, considerando o contexto social envolvido, a legalização do aborto apenas combate um sintoma de uma doença social e não a doença em si. A vontade de legalizar o aborto é produto de um único fator social: A pressão exacerbada exercida sobre mulheres, principalmente jovens, a maioria menor de idade, sem emprego, sem estudo, de classe baixa, que tiveram o processo de gestação iniciado em decorrência de uma transa irresponsável; e, aí, é lógico que a irresponsabilidade deve ser atribuída ao casal, não só à mulher, como comumente acontece (lembrando que gravidez decorrente de estupro já é um caso previsto em lei). E que fique claro, não estou criminalizando comportamento sexual ativo das mulheres. O problema não é transar, o problema é transar sem a devida proteção. O estado fornece preservativos gratuitamente em postos de saúde, mas muita gente não tem ciência disto. E, neste caso, falta tanto uma ação governamental para divulgar o que o próprio governo oferece quanto o interesse das pessoas em procurar se informar.    

A grande maioria de casos de aborto está relacionada a este quadro. Pais que não aceitam que a filha esteja grávida, o parceiro sexual geralmente não assume o filho e a sociedade criminaliza a mulher grávida que não tem condição de cuidar do filho, como se a responsabilidade pela criança fosse exclusivamente dela. É uma situação típica que não dá apoio nenhum à gestante e faz com que ela sinta a necessidade de abortar, vendo que a gravidez é vista como algo indesejável e antinatural para os padrões sociais. Muitas vezes, a procura pelo aborto clandestino decorre da falta de apoio, o que poderia ser combatido mais facilmente com programas de psicólogos para a família envolvida, por exemplo. Para tal programa funcionar, no entanto, não é necessário que se legalize o aborto, esperando que a mulher vá procurar um serviço e seja dali encaminhada a outro; embora concorde que essa estratégia é mais aplicável por não exigir locomoção dos agentes. Porém, uma estratégia que atenderia a mais demandas poderia ser amplamente difundida. Montar equipes interdisciplinares de saúde para fazer visitas regulares às casas das pessoas. Essa tática ajudaria a combater muitos outros problemas de saúde e já empregada em algumas cidades do Brasil.     

A situação acima descrita ainda desenrola um outro debate igualmente polêmico: 

Menores de idade (que seria, em teoria, o público mais interessado) poderiam fazer o aborto por sua própria conta? Se assumirmos que sim, isso não seria atribuir ao jovem a responsabilidade total pelos seus atos tanto no que é tocante a seu próprio corpo quanto no que tange suas atitudes dentro da sociedade? Se uma pessoa é capaz de julgar que não pode cuidar de uma criança, também pode responder por qualquer outro ato que cometa, ou estou enganado? Então baixaríamos a maioridade, ou sujeitaríamos o aborto ao julgamento da família da gestante? 

Lembrando que sexo consensual, de acordo com Estatuto da Criança e do Adolescente, só é assim entendido a partir dos 14 anos, antes disto, qualquer relação sexual é considerada um estupro. Isso significa que com 14 anos já somos plenamente capazes de ter uma vida sexual ativa, então, teoricamente, já sabemos que sexo sem preservativos ou anticoncepcionais pode ocasionar uma gravidez, portanto, somos responsáveis pelos riscos assumidos.

Todavia (E, abortistas, me aplaudam por isso!), aqui, encontramos um ponto em que a própria lei se contradiz, pois, o parágrafo único do artigo 126 do Código Penal prevê pena de 4 a 10 anos de reclusão para quem realizar o procedimento em menores de 14 anos, por considerar que pessoas na faixa etária acima discriminada, são mentalmente inaptas a fazer um julgamento preciso sobre seu corpo; baseando-se, para tal alegação, no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, que afirma que relação sexual em tal faixa etária é estupro. Portanto, com base no artigo 128 parágrafo 2º do Código Penal, deveria ser perfeitamente legal a realização do procedimento em meninas abaixo de 14 anos, desde que com consenso familiar.

No entanto, o mesmo parágrafo fundamenta a minha discussão sobre uma política contra a criminalização social da gravidez, uma vez que considera condenável qualquer ato deliberado que tenha como intuito pressionar o consentimento da gestante. Considerando que a grande maioria dos casos de aborto ocorre devido ameaça de expulsão do convívio familiar ou ameaça de ou abandono factual da gestante por parte do progenitor da criança, o aparato legal disposto no artigo não vem sendo utilizado em sua plenitude por desconhecimento de sua existência. Deveriam ser implementadas leis mais severas de proteção às gestantes. Por exemplo, o abandono da gestante tanto por parte de sua família quanto de seu parceiro sexual deveria se enquadrar no Art 133 ou 134 do Código Penal, respectivamente referentes ao abandono de incapaz ou de recém-nascido, explicitando as consequências caso a gestante venha a cometer o aborto e caso a mãe também venha a falecer em decorrência do ato; considerando a existência, a vida, e a incapacidade do nascituro. Deste modo, se combateria a prática do aborto ao mesmo tempo em que se puniria quem, de fato, é responsável.  
  
E, assim, chegamos a outro argumento utilizado pelos abortistas: com a legalização do aborto, ocorrerá uma diminuição na criminalidade e miséria porque, através da análise do meio em que vive, uma mulher poderia, abortando, impedir que o filho se tornasse alguém socialmente indesejável (criminoso). Isso, ao meu ver, está muito longe de ser um ato de resistência, se situando muito mais como uma rendição a um preconceito elitizado de que todo pobre é marginal (no sentido pejorativo da palavra). O caráter de individuo é, sim, EM PARTE, moldado pelo meio que o rodeia, mas este não é o único fator nem o determinante para formação da personalidade do indivíduo.    

A verdadeira questão social por trás do aborto é, na minha visão, até onde podemos liberar rotas de fuga para pessoas irresponsáveis. Utilizando um paralelo, hoje, por lei, se houver uma morte no trânsito decorrente de direção embriagada, o motorista alcoolizado é acusado de homicídio doloso, pois entende-se que, ao dirigir bêbado, assumi-se o risco de matar; porém, se fizermos sexo sem proteção, NÃO ASSUMIMOS RISCO NENHUM e a responsabilidade pelas consequências deve ser de caráter facultativo? Confesso, tenho certa dificuldade para entender esta lógica. E, para que fique claro: Não considero que seja incoerência da minha parte dizer que sou contra a criminalização da gravidez e a favor da responsabilização da gravidez; pois, como já disse, acredito que o direito de não querer engravidar é totalmente legitimo por que diz respeito exclusivamente ao corpo da mulher.

E aqui faço a única ressalva. São mínimos, mas existem casos em que, mesmo se precavendo como possível, a mulher engravida. Preservativo estourar ou engravidar mesmo tomando anticoncepcional. Isto caracteriza um acidente e não uma irresponsabilidade; a linha tênue que divide os dois és justamente a responsabilidade de se precaver. Para estes casos, considero válida a revisão da legislação sobre o aborto, embora ainda defenda uma política de descriminalização da naturalidade de engravidar, por que, claro, uma vez aprovado, teria de ser comprovado de alguma maneira o uso de métodos contraceptivos na relação que originou o embrião e isto complicaria as coisas. Uma alternativa é, mediante a processo legal, conseguir meios econômicos da fabricante do produto e/ou a adoção da criança por alguém que a queira.  

Outro argumento pró-aborto comumente usado pelos abortistas gênero-igualitários| (não são feministas, embora se confundam)  é o de que a mulher tem tanto direito de desistir da gravidez quanto o homem. Pressuposição baseada numa prática covarde, que de direito legal não tem absolutamente NADA; que, aliás, é um crime e, inclusive, deveria ser tratado com muito mais severidade do que simplesmente o pagamento de pensão, como já deixei explicito. Legalizar o aborto por esse motivo (na verdade, por qualquer motivo, mas principalmente por esse) não é feminismo nenhum. Se trata da tentativa de se igualar ao homem numa de suas características mais hediondas e não da tentativa de igualar a responsabilidade sobre a criança, que é, ao meu ver, o que deveria ser buscado.

Além disto, tal legalização tem, pelo menos, mais um ponto de extremo machismo travestido.

Refiro-me ao fato de colocar sobre a mulher TODO o peso da responsabilidade pelas crianças, pois, uma vez que o aborto seja legalizado, a escolha sobre gestar ou não o filho caberá exclusivamente às mulheres. Isto resultará em longos processos legais, uma vez que eximiria o pai de qualquer responsabilidade se ele, simplesmente, disser à gestante que ela PODE abortar. Ou seja, a partir do momento em que o pai deixar manifesto que não tem interesse no filho, a mãe se vê diante da seguinte situação: Ou escolhe abortar, ou terá de cuidar da criança sozinha, pois ela não usufruiu do direito de abortar. Há, aí, uma manobra do sistema que é quase imperceptível, mas, basicamente, é aquela que já mencionada sobre a abolição da escravatura.  


Para termina, gostaria de salientar que o sistema é quem comanda quais discussões serão colocadas em pauta, de acordo com a "lucrabilidade" delas, mas não necessariamente precisamos seguir a pauta que nos é empurrada. A política mais eficaz que precisamos, neste momento, é uma política que esteja voltada para o bem-estar humano, portanto, uma política que seja feita para a reestruturação da convivência familiar, resgatando, sobretudo, o papel fundamental dos responsáveis na formação ética/moral dos nossos futuros cidadãos.


Edgar Izarelli de Oliveira