sábado, 24 de maio de 2014

Palestra na E.M.I. Anjinho - Taboão da Serra



      Galera, nesta manhã fria de 23 de maio, estive na E.M.I. Anjinho em Taboão da Serra, convidado pela coordenadora pedagógica Cintia Oliveira, para partilhar com os professores a minha experiencia como aluno portador de necessidades especiais.
      Como já é de praxe, iniciei o trabalho com uma poesia. A escolhida pra iniciar foi "Olha pra Gente",  por seu conteúdo reflexivo, especialmente o verso "Será que você tem mais amor próprio ou auto piedade?". Minha intenção com isso foi ressaltar o papel crucial do professor na formação psico-emocional da criança em geral, com mais ênfase nas crianças portadoras de alguma deficiência.
       Após esta breve abertura, a palestra tomou rumos inesperados... As professoras dessa escola são muito dinâmicas! Característica que tornou a palestra muito interessante devido também, à presença de minha mãe, Denise Oliveira, pois muitas das perguntas feitas foram direcionadas à ela.
       Nossa conversa seguiu até um ponto de impasse: Inclusão, seria mesmo a palavra mais correta para o que deve ser feito com pessoas que possuam algum tipo de deficiência? É um tema polêmico que eu fiz questão de levantar, pois a palavra "inclusão", semanticamente, significa: a ação de colocar algo dentro de um grupo. Só que colocar uma pessoa dentro de um grupo não é, na minha concepção pessoal, a mesma coisa que inseri-la ou integrá-la no sistema de relações que ocorre neste grupo. Mas, dentro da pedagogia e da legislação brasileira, a palavra "integração" carrega o sentido de incluir a criança numa escola ou em um local e esperar que a criança se adapte àquele meio.
      De acordo com o mesmo parâmetro, incluir pessoas deficientes é fornecer a elas espaços adequados, acessibilidade e condições relativamente parecidas às dos demais no sistema em que vivemos. É direito, de acordo com a lei 10.172 sancionada em 2001, que qualquer criança, com qualquer tipo de deficiência ingresse em qualquer escola pública. A lei em si é uma boa proposta, mas não funciona corretamente. Os professores sem especialização acabam ficando receosos ao tratar casos de alunos deficientes; muitos dos prédios que até hoje funcionam como escolas, foram construídos sem qualquer possibilidade de adequação, posto que na época de sua construção, há 25 ou 30 anos atrás, não se pensava na possibilidade  de deficientes ocuparem os espaços públicos de educação.
      A lei ainda tem outros pontos flácidos, como, por exemplo; a falta de estímulo a projetos multi-secretariais nas prefeituras para que essas pessoas sejam melhor INTEGRADAS ao meio em que vivem. Projetos como o de Integração Educação-Saúde de Ubatuba, do qual eu mesmo fui um dos atendidos e a escola especial da AACD; estão ficando cada vez mais raros, por causa da lei da inclusão...
      O Projeto Integração Educação-Saúde merece uma nota de como funcionava: uma E.M.E.I tinha uma equipe especializada e uma sala especial para receber crianças deficientes. A equipe contava com pedagogo especializado, fisioterapeuta, psicologa/psicomotricista e terapeuta ocupacional e assistentes de sala. As crianças atendidas pelo projeto tinham uma sala separada das outras e faziam suas terapias em paralelo às atividades curriculares, para melhoria da saúde e da condição física. Apesar das atividades e salas diferentes as crianças partilhavam espaços e horários comuns.
     Particularmente, me coloco contrário à divisão de salas que até hoje ocorre em algumas escolas; me parece irônico ter o direito de ser incluído a um espaço que segrega os inclusos. Entretanto, entendo que pra alguns essa divisão acaba sendo benéfica. Não são todos os quadros de deficiência que apresentam uma intelectualidade considerada normal e mesmo dentre os que tem condições intelectuais, não é raro acontecer falha na fala e na comunicação. Minha própria deficiência, a chamada Paralisia Cerebral tipo Coreoatetóide, que se caracteriza por movimentos involuntários por todo o corpo, em graus mais elevados, compromete brutalmente a fala e expressão facial, mesmo mantendo intelecto intacto. Eu mesmo possuo alguma alteração na fala.
   Na escola especial da AACD, eram diversas deficiências em graus muito diferentes que compartilhavam o mesmo espaço e cada um aprendia o que tinha condições de aprender, se assemelhando muito a uma escola da rede pública regular. A mesma matéria e capacidades diferentes de aprendizado. A diferença não era o professor especializado. O professor vai fazer a mesma função que deveria fazer em qualquer escola pra qualquer aluno em qualquer condição: ajudar na descoberta de potencialidades e indicar caminhos pra que seus alunos se desenvolvam. A diferença da AACD é que haviam de 2 a 4 assistentes de sala, que eram voluntários, para ajudar quem não conseguia escrever e havia uma pessoa paga pra ajudar nas necessidades fisiológicas.
   Se escolas públicas aceitassem esse tipo de trabalho, mesmo que voluntário, creio que casos de sucesso de deficientes na escola seriam menos raros e se tornariam até comuns. O estado poderia prover tradutores e professores de LIBRAS e Braile para as escolas públicas; inclusive, incluindo as duas matérias na grade curricular, ampliando assim a inclusão, uma vez que são línguas, como inglês ou espanhol. Penso até que poderiam ser incluídas dentro da disciplina de Língua Portuguesa.
   Estudei na AACD de 1998 a 2001, lá desenvolvi meu gosto pela literatura, graças à Professora Eliane O.M. Silva e seu projeto de escrever um livro de apresentação dos alunos pra nova escola pra onde iriam depois do último ano da AACD. Outra coisa que falta em escolas públicas, do estado de São Paulo, pelo menos, é a liberdade para que o professor exerça sua função da maneira que lhe for mais apropriada, por meio de projetos inovadores, como este, que me formou como escritor e poeta.
   Não sei como está a escola especial da AACD atualmente, mas até o ano passado tinha uma amiga que trabalhava voluntariamente por lá. Tentarei me informar...  
    Agora uma consideração final para os professores que receberem em suas salas um aluno deficiente. Não é necessário muito conhecimento extra pra que se realize um bom trabalho, antes de qualquer coisa é preciso perceber que, por mais que algumas deficiências sejam graves, quem está ali é um ser humano, tem as mesmas necessidades que qualquer outro aluno. Técnica nenhuma pode substituir a humanidade! É só procurar conhecer quem é aquela pessoa, como se faz com qualquer outro aluno. Estudei em escolas particulares e públicas, onde os professores não eram especializados, mas sempre se deram muito bem comigo. Adaptaram o jeito de aplicar as provas, cada um à sua maneira. Me ajudaram a resolver questões de convivência com colegas. Enfim, o que faz o professor não é especialização, mas a vontade de lecionar. Professores, a minha trajetória com os professores que tive me levou a entrar na USP, quantas histórias deste tipo podem estar se escondendo atrás de uma especialização? Verdade que o estado tem seu papel, mas as pessoas que formam a sociedade também tem. Quem sabe, não seja da mente de um deficiente aceito como aluno por vocês, que saia a lei que mude o sistema educacional pra algo melhor? Pensem nisto!
   Encerrei a palestra recitando "Medo, Nunca Mais" na intensão de quebrar o medo de agir.
   Escreverei textos mais bem organizados sobre os vários temas que abordei aqui.

   Se alguém se interessar pela palestra, entre em contato conosco.  

  Abraços

Edgar Izarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário